RESUMO -Racional -O músculo cricofaríngeo é de tipo estriado esquelético, por conseguinte, incapaz de manter contração continuada por longos períodos. Apesar disto, tem sido considerado como o responsável pela zona de alta pressão registrada manometricamente na transição faringoesofágica. Em razão desta crença, tem sido alvo de terapêuticas cruentas que visam, por ruptura de sua integridade, franquear a comunicação entre a faringe e o esôfago. Objetivo -Dar as bases anatômicas que definam os limites de participação do músculo cricofaríngeo na função da transição faringoesofágica; considerar alternativa morfofuncional para explicar a zona de alta pressão desta transição e as implicações das miotomias sobre ela, uso de toxina botulínica e das dilatações pneumáticas. Material e Métodos -O total de 24 peças obtidas de cadáveres de adultos de ambos os sexos fixados em formaldeído a 10%, teve a laringofaringe estudada quanto as suas características morfológicas e relações. Resultados -O músculo cricofaríngeo apresenta suas inserções ântero-laterais nas bordas póstero-laterais da cartilagem cricóide, configurando morfologia em meia calha ou de uma letra C que não permite, quando de sua contração, a geração de pressão com predomínio anterior e posterior, como a encontrada na transição faringoesofágica. Este tipo de distribuição pressórica tem sustentação na relação de pinça exercida, por um lado, pela rigidez oferecida pelos corpos vertebrais, por outro, pelo contorno posterior da cartilagem cricóide. Conclusões -A organização muscular da laringofaringe permite afiançar que a miotomia alargada da transição faringoesofágica, aquela que se estende além do fascículo transverso do cricofaríngeo, lesa musculatura ejetora e em área cuja a já maior dimensão luminar dispensaria a secção parietal. Miotomia que tome somente o fascículo transverso do cricofaríngeo poderá contribuir positivamente para a melhoria do fluxo faringoesofágico por diminuição da resistência local. A eficiência deste procedimento será dependente da existência de alguma força de ejeção e elevação hiolaríngea. O fascículo transverso do músculo cricofaríngeo é fitado, de pequena espessura, para ser infiltrado por via transcutânea com a toxina botulínica. Talvez por via endoscópica, à semelhança das miotomias, o indicado seria desnervar somente o fascículo transverso do músculo cricofaríngeo. Neste contexto dose, diluição e pontos de infiltração assumem importante papel no uso terapêutico desta neurotoxina em nível do cricofaríngeo. A dilatação por balão pneumático da transição faringoesofágica não parece ser procedimento adequado para região que não apresente estenose fibrótica a ser rompida. Em razão das características anatômicas da transição faringoesofágica, a pressão média de repouso, como registrada pelo método manométrico, não avalia adequadamente a ineficiência ou efetividade da miotomia, da desnervação ou do resultado da dilatação por balão pneumático.