IntroduçãoQuando se pensa na ocupação do ambiente terrestre pelos vertebrados, os anfíbios enfrentam um desafio hídrico particularmente pungente devido à necessidade de manutenção de uma alta permeabilidade de seu tegumento, que representa um importante órgão de troca de gases respiratórios neste grupo. A alta permeabilidade tegumentar, característica da maior parte das espécies de anfíbios, acarreta em taxas de perda de água particularmente elevadas quando comparados a outros tetrápodes, e expõe estes animais a um alto risco de desidratação em ambiente terrestre (McNab, 2002). Embora um processo de redução severa das populações de anfíbios venha sendo detectado ao redor do mundo (Houlahan e col., 2000, Stuart e col., 2004, Stuart e col. 2008), ainda não existe uma compreensão básica dos fatores que controlam a distribuição geográfica e diversidade destes animais em ampla escala espacial (Buckley e Jetz, 2007). As limitações fisiológicas peculiares dos anfíbios estão bem documentadas e sugerem forte sensibilidade a determinadas condições ambientais (Feder e Burggren, 1992). Por exemplo, a riqueza de espécies de anfíbios aumenta dos pólos em direção à linha do equador, apresentando altas concentrações nas florestas tropicais úmidas, Resumo. Dado que os anfíbios são geralmente caracterizados por uma elevada permeabilidade tegumentar, a variação interespecífica em aspectos do balanço hídrico poderia estar associada a padrões de distribuição dos anfíbios em ambientes que diferem quanto à disponibilidade hí-drica. Análises comparativas de espécies que habitam diferentes biomas fornecem evidências de adaptações em diversas variáveis fisiológicas associadas ao balanço hídrico, tais como tolerância à desidratação, resistência da pele à perda de água e taxas de reidratação. Entretanto, aspectos ecológicos e comportamentais devem ser integrados aos fisiológicos, sob um enfoque histórico da diversificação dos clados e de sua ocupação ambiental, para o entendimento das bases funcionais da distribuição geográfica e da tolerância às alterações ambientais dos anfíbios.
Palavras-chave. Desidratação, reidratação, tolerância à desidratação, anuros, disponibilidade hídrica.Abstract. Given the high cutaneous permeability of amphibians, their inter-specific variation in aspects of water balance could be associated to patterns of distribution in environments that differ in water availability. Comparative studies including species from different biomes evidence adaptations of several variables associated to water balance, such as dehydration tolerance, skin resistance to water loss, and rates of water uptake. However, to understand the underlying mechanisms of amphibian geographical distribution and sensitivity to environmental change, ecological and behavioral aspects must be integrated to physiology under a historical approach of clade diversification and environmental occupancy.