ResumoAs experiências de abuso na infância contribuem para o desajustamento psicológico adulto e tendem a ser transmitidas transgeracionalmente, conforme pesquisas nacionais e internacionais. Visando identificar concepções de mães que sofreram abuso na infância acerca do que as ajudou a não reproduzir atos de abuso com seus filhos, realizou-se um estudo qualitativo de delineamento exploratório, a partir do relato da história de vida de quatro mulheres, identificadas em estudo preliminar, que sofreram abuso e não o repetem com seus filhos. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e a construção do genograma familiar para ampliar a análise sobre a história dos participantes. O material foi compreendido a partir da análise de conteúdo, no qual as categorias e subcategorias foram definidas a posteriori. Os resultados indicam que a existência de modelos de identificação saudáveis na rede de apoio social, a maternagem, o processo terapêutico e as características individuais podem estar relacionados à resiliência, sendo fatores que podem contribuir para o rompimento do padrão de violência. Palavras-chave: Abuso infantil, fatores de risco, resiliência O aumento da incidência da violência intrafamiliar tem causado preocupação na sociedade brasileira, principalmente porque a gravidade do fenômeno atinge o processo de desenvolvimento dos sujeitos envolvidos, do sistema familiar e da sociedade como um todo (De Antoni; Barone & Koller, 2007). Dentre os fatores que contribuem para o número elevado de casos de violência familiar, Delsol e Margolin (2004) consideram que a sociedade patriarcal, a desigualdade de poder e os papéis sexuais tradicionais influenciam nas relações familiares e, consequentemente, proporcionam maior ocorrência. Por se tratar de um fenômeno complexo, outros fatores podem estar associados à presença de violência, dentre eles a tendência à repetição de experiências vivenciadas na infância. Praticamente a totalidade das pessoas que maltratam os filhos foram vítimas de violên-cia na infância