Este artigo tem por objetivo propor pontos de contato entre as experiências de violência e produção de memória no contexto da Argentina e da Palestina, a partir da análise de duas obras distintas, um livro autobiográfico escrito pela palestina Ibtisam Barakat e um livro de memórias produzido por um coletivo de filhos/as de repressores argentinos. Partindo de campos diversos, as fontes apresentam um potencial analítico em comum: a escrita contemporânea de mulheres, com formas narrativas e preocupações temáticas relacionáveis. Propõe-se reflexões entre as obras analisadas, considerando dois objetivos principais: de que forma a “pós-memória” pode ser uma categoria pertinente para pensar esses processos históricos, a partir de uma revisão bibliográfica do conceito que o testa em cenários marginais, e conjecturar sobre o lugar da autoficção feminina na produção do passado recente. Entendendo a pós-memória como um dispositivo crítico e tendo em vista a complexidade temporal que os casos argentino e palestino suscitam, o uso da categoria pode ser uma possibilidade analítica para o emaranhamento de memórias refletidas nesses textos, ainda que particularidades dos efeitos da violência de Estado se coloquem para cada caso.