Ativismo em rede e espaço comum. As mobilizações globais de protesto pelo climaA partir das manifestações de protesto globais contra as alterações climáticas, que constituíram uma causa comum, a questão que se coloca é em que medida se assiste à emergência de um "espaço comum", para a formação do qual contribuem as possibilidades comunicacionais e de mobilização trazidas pelas conexões digitais. Os conceitos de espaço comum tópico e metatópico (Taylor) e de relações "atópicas" (Di Felice) nos contextos digitais são examinados e aplicados às manifestações. As redes digitais tiveram um papel importante nas mobilizações e estas criaram um "espaço comum tópico" em coexistência com relações digitais atópicas. Considera -se que há a formação de uma "atenção conjunta" e de uma causa comum global. Assim como há condições para a formação do comum, na atualidade, com intervenção do ativismo em rede, o que permite pensar o "espaço comum" -e será esse o maior contributo deste artigo -nessa ecologia relacional.Palavras -chave: alterações climáticas; ativismo; movimentos de contestação; redes de comunicação.O mundo comum é para constituir, está lá tudo. [...] Deve ser feito, deve ser criado, deve ser instaurado.(Bruno Latour, 2011: 39; itálico no original) 1
IntroduçãoA fragmentação do espaço público, causada pela expansão dos meios de comunicação de massa, acentuou -se com os novos média e com a sua utilização vulgarizada. A comunicação nas redes sociais digitais intensifica efeitos de dispersão, efemeridade, simultaneidade, ligação ao próximo e ao longínquo e, nessa medida, refletir sobre o espaço público, ou o espaço comum, requer ter em conta as ligações eletrónicas e o ecossistema interativo que compõem. As redes têm repercussões nas práticas comunicacionais e 1 Todas as traduções apresentadas são da responsabilidade da autora.