Este artigo discute como a noção de famílias negras enquanto conceito analítico nos estudos criminológicos pode ser útil na compreensão da produção da punição e seus impactos sociais realizados pelo Sistema de Justiça Criminal no Brasil. Para tanto, é realizada uma discussão teórica a partir das noções de família em sua relação com o Estado para a Sociologia e Criminologia brasileira numa perspectiva que reflita classe, relações raciais e gênero. Assim, se discutirá o conceito de famílias negras relacionado às identidades de familiares de pessoas presas e familiares de vítimas de terrorismo do Estado, a fim de discutir como as suas organizações, ações e incidências têm desafiado a violência racial estatal e reivindicado espaços políticos e jurídicos enquanto sujeitas de direitos e sujeitas políticas, a despeito da mira criminalizadora. Ademais, discutimos como o conceito de famílias negras pode ser incorporado como elemento de análise para mensurar os impactos sociais do encarceramento em massa e letalidades provocadas pelas agências estatais produtoras de criminalização e de punição.