RESUMOEste artigo tem como proposta refletir sobre a construção sociocultural do câncer do pondo de vista das pessoas que vivenciam a experiência. Origina-se de um estudo qualitativo com abordagem teórico-metodológica da antropologia interpretativa e do método etnográfico, com a participação de dez informantes em tratamento radioterápico, de ambos os sexos, na faixa etária de 34 a 80 anos. Os dados foram coletados no período de março a agosto de 2007 por entrevistas semiestruturadas e observação participante em seu domicílio na Região Sul do Brasil. Os resultados mostram a trajetória da doença, desde os primeiros sinais e sintomas, até a construção cultural de ser um paciente oncológico e as demandas que essa nova identidade acarreta. Constatamos que os significados construídos evidenciam a necessidade de ampliar o cuidado, incluindo as referências socioculturais do contexto das pessoas que vivenciam a realidade de ter câncer. No caso da enfermagem, isso significa uma forma de ultrapassar a dimensão biológica do cuidar. Neste pensar, entendemos ser necessário construir, junto às pessoas acometidas pelo câncer, estratégias de cuidado que atendam às suas concepções culturais, com vistas a promover a sua sobrevivência com qualidade.Palavras-chave: Cultura. Neoplasia. Enfermagem. Cuidado.
INTRODUÇÃOO envolvimento da cultura e do social no adoecer humano surge nos anos de 1970, com a contribuição das ciências sociais para a epidemiologia, uma vez que se descobre a influência do processo psicossocial, do estresse e também do meio social na resistência do hospedeiro (1) . Os fatores apontados pela epidemiologia para a incidência das doenças crônico-degenerativas, entre elas o câncer, são de caráter ambiental (exposição a agentes cancerígenos e os hábitos de vida, como alimentação desregrada e ausência de atividades físicas) e genético (2) . O Instituto Nacional de Câncer (INCA) refere que os fatores de risco de câncer, numa determinada população, dependem diretamente das características biológicas e comportamentais dos indivíduos que a compõem, bem como das condições sociais, ambientais, políticas e econômicas que rodeiam esses indivíduos, ou seja, são altamente influenciados pela cultura do grupo ao qual eles pertencem (2) . Nesse sentido, os pacientes oncológicos apresentam-se mais susceptíveis a crises, que podem ser de caráter psicológico, biológico ou espiritual. Tais crises podem ser desencadeadas pelo diagnóstico e prognóstico da doença, bem como pelos efeitos colaterais do tratamento, que também afetam os seus familiares (3) . Assim, os enfermeiros que assistem pacientes oncológicos precisam ter conhecimento dos aspectos socioculturais que integram o processo de ter câncer e a submissão às terapêuticas, como base para planejar e implementar as intervenções de cuidado na reabilitação do paciente e o apoio à família, com vista a promover uma sobrevivência com qualidade de vida.Na prática do cuidado à clientela oncológica, observamos que o cliente submetido às terapêuticas de combate ao câncer encontra-se fragiliz...