Resumo
O objetivo do artigo é refletir sobre dois aspectos centrais para a compreensão do valor da mobilidade na sociedade cabo-verdiana, os processos de produção de familiaridade e suas relações com os valores da casa e do viver junto. Tendo em vista que tratamos de um contexto em que os deslocamentos são estruturantes e que estamos diante de famílias engajadas em circulações em diversos níveis, meu interesse é analisar tais universos a partir de dois eixos: as trajetórias de mobilidade e a construção de proximidade nesse universo marcado por uma importante circulação de pessoas, coisas, valores e dinheiro. Os dados analisados são resultado de mais de 15 anos de pesquisa no arquipélago, em duas ilhas em particular, a Ilha da Boa Vista e a Ilha de Santiago, e tendo como ponto de partida os universos familiares daquelas que denomino de “famílias espalhadas”. Meus interlocutores são tanto aquelas pessoas que ficaram nas ilhas e vivenciam as dinâmicas migratórias a partir do local quanto aqueles emigrantes que retornam à terra e à casa, seja periódica ou definitivamente. É, portanto, nesse universo entre o ir, o voltar e o ficar que se assentam minhas reflexões.