RESUMO “Narrativas ontológicas são histórias pessoais que contamos a nós mesmos sobre nosso lugar no mundo e nossa história pessoal”. Essa definição, entre os quatro tipos de narrativas abordadas por Mona Baker (2006), é a que ela traz para os estudos da tradução, juntamente com outros conceitos desenvolvidos sobretudo na sociologia. A autora defende a socionarrativa como um processo que abrange diversos textos e que possibilita ao narrador-tradutor tomar posição frente a situações de conflito, cujas narrativas são reproduzidas ou construídas por meio da tradução e da interpretação. Depois de discutir a incidência dos afetos e emoções na prática da tradução, apresentamos uma narrativa ontológica de um fato acontecido com uma das autoras, que foi, num primeiro momento, interpretado por ela mesma como uma reação no nível da ética e da racionalidade, e acabou sendo ressignificado, após uma indagação de um examinador na arguição de seu Memorial a respeito do que a autora-tradutora havia sentido naquela situação. Com o auxílio de reflexões desenvolvidas nas Ciências Humanas em geral (AHMED, 2014), e na tradução, em particular (ROBINSON, 1991; 2003; 2020), o objetivo principal deste artigo é trazer para a discussão as reações da tradutora e de alguns leitores do texto traduzido e possíveis impactos para as narrativas conceituais sobre tradução.