Em seu primeiro ensino, Lacan confere ao inconsciente o estatuto de estruturado como uma linguagem, em que o Nome-do-Pai é o significante primaz e ordenador da entrada do sujeito no campo simbólico. Nesse ensino, a foraclusão do Nome-do-Pai é o mecanismo que constitui a estrutura clínica da psicose. No último ensino, com a teoria do sinthoma e a partir da obra de James Joyce, Lacan abre uma nova perspectiva para abordar a psicose, não em termos de déficit do Nome-do-Pai, mas como modos borromeanos de amarração dos registros Real, Simbólico e Imaginário. É sob o modelo joyceano que se pode pensar o que Miller, na Convenção de Antibes, denominou psicose ordinária. Assim, se há mudanças no percurso teórico lacaniano, dos anos 1950 aos anos 1970, sobre a abordagem das psicoses, apontariam as psicoses ordinárias para uma outra perspectiva do inconsciente no contexto do último ensino de Lacan, diferente daquela do inconsciente estruturado como linguagem? Este estudo pretende retomar pontos importantes de momentos cruciais do ensino de Jacques Lacan, que permitem compreender alguns giros teóricos desse psicanalista francês e como os mesmos têm efeitos e consequências na clínica, ou surgiram, eles próprios, de questões clínicas. Nesse sentido, considerando o que é chamado de psicose ordinária e fundamentandose nas discussões lacanianas sobre o sinthoma, isso apontaria para outra abordagem do inconsciente que confere ao registro do real um lugar proeminente, o que Miller aponta como o inconsciente real.