2010
DOI: 10.1590/s0102-71822010000200002
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O fetiche do eu autônomo: consumo responsável, excesso e redenção como mercadoria

Abstract: RESUMOEmbora esteja no centro do projeto moderno, a ideologia de um eu autônomo ganha contornos novos a partir da segunda metade do século XX, quando começa a se delinear a sociedade "sem limites". O campo do consumo foi fértil na propagação dessa ideologia, embora nunca sugerisse abertamente que o consumidor assumisse a responsabilidade pelos seus atos. a esfera do consumo foi constituída longe de um olhar e discurso público centrados em uma política de autocontrole do consumidor. Mas, nos últimos quinze anos… Show more

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“…Retomando Zizek (1996) e sua ideia de que o capitalismo representaria o fim da história, pontuamos que seria o mesmo que dizer: "Faça alguma coisa", "seja ativo", "participe", se afilie, segundo Fontenelle (2010), ao "consumo responsável", "consciente", "sustentável", "ético", "racional", "ativista", "cidadão", isto é, "[...] uma tirania da escolha que não deveria nos enganar, pois se trata de seu verdadeiro oposto: a ausência da escolha real quanto à estrutura fundamental da sociedade" (ZIZEK, 2008, p. 455 Consequentemente, a cultura do consumo passa a vender uma nova mercadoria: a redenção da culpa (FONTENELLE, 2010), ou o que podemos denotar ser uma terceirização dessa redenção, uma vez que cabe a esse consumidor optar (ou não) "[...] pela escolha das empresas das quais vai comprar em função de sua responsabilidade social, ajudando a construir uma sociedade mais sustentável e justa" (MATAR, 2009, s/p). O resultado desse arranjo em torno da crise ecológica é, segundo Fontenelle (2010, p. 220), um passar para o individual a responsabilidade de impor os limites ao capitalismo, ou seja, não há proibição social ou estrutural, as pessoas que são responsáveis por impor novas proibições a si mesmas (SALECL, 2005apud FONTENELLE, 2010.…”
Section: A Soberania Do Consumidor Conscienteunclassified
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“…Retomando Zizek (1996) e sua ideia de que o capitalismo representaria o fim da história, pontuamos que seria o mesmo que dizer: "Faça alguma coisa", "seja ativo", "participe", se afilie, segundo Fontenelle (2010), ao "consumo responsável", "consciente", "sustentável", "ético", "racional", "ativista", "cidadão", isto é, "[...] uma tirania da escolha que não deveria nos enganar, pois se trata de seu verdadeiro oposto: a ausência da escolha real quanto à estrutura fundamental da sociedade" (ZIZEK, 2008, p. 455 Consequentemente, a cultura do consumo passa a vender uma nova mercadoria: a redenção da culpa (FONTENELLE, 2010), ou o que podemos denotar ser uma terceirização dessa redenção, uma vez que cabe a esse consumidor optar (ou não) "[...] pela escolha das empresas das quais vai comprar em função de sua responsabilidade social, ajudando a construir uma sociedade mais sustentável e justa" (MATAR, 2009, s/p). O resultado desse arranjo em torno da crise ecológica é, segundo Fontenelle (2010, p. 220), um passar para o individual a responsabilidade de impor os limites ao capitalismo, ou seja, não há proibição social ou estrutural, as pessoas que são responsáveis por impor novas proibições a si mesmas (SALECL, 2005apud FONTENELLE, 2010.…”
Section: A Soberania Do Consumidor Conscienteunclassified
“…Ainda que o Mercado, que também faz as vezes de Outro ao orientar como devem se passar as relações entre os sujeitos, convoque incessantemente o sujeito ao consumo sem que, em nenhum momento da história, tal subjetividade tenha sido submetida ao olhar ou discursos públicos sobre limites ou autocontrole (FONTENELLE, 2010), os sinais da natureza, de acordo com o discurso ecológico, alertariam para os "perigos" do consumo "inconsequente", criando consumidores que, culpados (afinal a culpabilidade é uma moeda do sujeito no pagamento à dívida com o Outro), procuram "consumir de forma consciente", colocando em ação a responsabilidade por impor limites ao 'sem limites' do capitalismo de consumo ou a auto regulação do livre Mercado.…”
Section: A Soberania Do Consumidor Conscienteunclassified
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“…Numa perspectiva muito próxima da nossa, Fontenelle (2010), ao abordar a questão do consumo responsável, chama atenção para a produção de discursos da responsabilização que tem recaído sobre os consumidores ao fazerem suas escolhas; no entanto, "um discurso que remete a uma categoria de consumo moralmente 'sem conflito', limitando a possibilidade de uma discussão sobre as tensões inerentes à questão da escolha a responsabilidade do consumidor'" (FONTENELLE, 2010, p. 216).…”
Section: O Aparecimento Da Sustentabilidade Na Publicidade E O Consumunclassified