Os trabalhadores do contexto hospitalar em tempos de pandemia: singularidades, travessias e potencialidades

Abstract

Este relato de experiência teve como objetivo apresentar algumas singularidades, travessias e potencialidades advindas da construção e do desenvolvimento do Programa de Terapia Ocupacional, Saúde e Trabalho (ProTost) em um hospital universitário durante os meses iniciais da pandemia. Esse programa foi orientado pelos princípios da Ergonomia da Atividade e da Psicodinâmica do Trabalho e pautou-se na necessidade de construção de ações participativas. Foram realizados grupos de reflexão sobre o trabalho envolvendo 15 setores do hospital e 140 trabalhadores. Os grupos proporcionaram aos trabalhadores espaços de escuta coletiva sobre o trabalho e ampliaram a visibilidade dos esforços empreendidos e os processos de reconhecimento horizontal e vertical. Além disso, contribuíram para o estudo de situações de trabalho, as discussões sobre transformações nos processos de trabalho e a construção de estratégias para enfrentamento dos desafios vivenciados no hospital que foram agravados pelo advento da pandemia.

Políticas sociais: acompanhamento e análise

“…No contexto da pandemia no Brasil, Fehn et al (2020) estimaram deficit de profissionais para atuação na linha de frente. Outra questão importante é que, em um sistema estressado pela alta demanda e pelos riscos de contágio e mortes, os profissionais de saúde foram altamente afetados (Adams e Walls, 2020;Lancman et al, 2021;Lotta et al, 2021;Migueis et al, 2021). Os contágios e os óbitos não foram igualmente distribuídos entre os profissionais de saúde, sendo maiores para técnicos de enfermagem, que têm contato rotineiro e intenso com os pacientes (Freire et al, 2021).…”

As relações de trabalho no contexto da COVID-19 à luz da psicodinâmica do trabalho: revisão de escopo

“…O trabalho é um dos aspectos mais importantes da vida humana, estando ligado à constituição da identidade e da subjetividade (AREOSA, 2019;HELOANI;LANCMAN, 2004;LANCMAN;UCHIDA, 2003;WEBER;KIRSTEN, 2017). O trabalho integra o indivíduo ao social, não sendo apenas um meio de suprir suas necessidades (ALVES, 2019;ROSENFIELD;PAULI, 2012).…”

“…Tais fatores podem ser conflitantes, na medida em que existe uma lógica corporativa e negocial voltada para o lucro e para a produtividade. Contudo, há também a lógica do indivíduo, muitas vezes contraditória, que consiste nos aspectos subjetivos (LANCMAN et al, 2021). O mesmo mundo do trabalho que pode produzir sofrimento psíquico também pode oportunizar desenvolvimento psicossocial ao sujeito.…”

“…O princípio constitucional da dignidade humana exige, de modo basilar, a concepção da proteção ao trabalho digno (BRASIL, 1988;ROSENFIELD;PAULI, 2012). A valorização do trabalho como referência fundamental da sociedade contemporânea enfrenta desafios, seja sob o prisma das profundas transformações nas relações humanas vivenciadas nos últimos anos, seja pelos impactos de ordem sanitária, estrutural, econômica e social com o advento da pandemia da COVID-19 deflagrada pela Organização Mundial da Saúde em março de 2020 (BRUNORO; SZNELWAR, 2021; LANCMAN et al, 2021).…”

“…O nexo entre a dimensão coletiva e individual pode ser alinhado, ainda que o sofrimento esteja alicerçado nas bases coletivas da organização do trabalho. Infere-se que esta experiência seja resultado, igualmente, de uma dimensão individual do sujeito (BOUYER, 2010;GEREMIA;SCAPINI;SILVA, 2020;HELOANI;LANCMAN, 2004;LANCMAN;UCHIDA, 2003). Nesse contexto, o presente estudo visa a sintetizar as contribuições da Psicodinâmica do Trabalho nas relações de trabalho inseridas no contexto da pandemia da COVID-19.…”