RESUMO -A comunicação parento-filial é uma dimensão central do exercício da parentalidade. O objetivo do presente estudo foi identificar e comparar as percepções de 467 progenitores e 329 crianças (entre 7 e 11 anos) sobre a comunicação parentofilial, através da Escala de Avaliação da Comunicação na Parentalidade (COMPA). Os testes t de Student, ANOVA e correlação de Pearson revelaram alguns resultados estatisticamente significativos: destaque positivo de mães/filhas na comunicação, relação positiva entre dimensões metacomunicação e partilha/confiança da intimidade por parte das crianças, e influência das variáveis sociodemográficas (níveis socioeconómico e de escolaridade baixos, contexto rural) sobre a comunicação. De uma forma geral, os resultados sugerem a necessidade de dar atenção às relações parento-filiais em contextos escolares e socioeconómicos desfavorecidos. A relação parento-filial inicia-se a partir do momento da concepção de um filho, acontecimento que marca o estabelecimento da primeira ligação intergeracional do ser humano (Segrin & Flora, 2005). Esta relação é constituída e definida por diversas dimensões das quais se destaca a comunicação (Carr, 2006). Por comunicação entende-se o processo contínuo de transmissão de informação que integra diferentes realidades e sociedades/culturas (Fiske, 1993(Fiske, /2005) sendo que, no contexto particular da família, a comunicação permite reconhecer e dar resposta às necessidades/exigências básicas da parentalidade em função de cada etapa do ciclo vital (Carr, 2006;Relvas, 1996). A comunicação familiar engloba diversas dimensões: expressão do afeto e do apoio emocional, que diz respeito à troca de mensagens positivas entre os membros da família, à clareza comunicacional, à resolução de problemas, ao suporte emocional, ao apoio verbal e à demonstração de afeto e empatia (Ségrin & Flora, 2005); disponibilidade, que se refere à abertura comunicacional e à sinceridade no diálogo (Kirkman, Rosenthal, & Feldman, 2005); metacomunicação, que está relacionada com o esclarecimento dos conteúdos comunicacionais verbalizados (Watzlawick, Beavin, & Jackson, 1967/1993; e confiança/ partilha equilibrada de questões e problemas pessoais sobre trabalho, relacionamentos, amizades e família (Kirkman et al., 2005). A etapa do ciclo vital "família com filhos em idade escolar" é considerada uma das mais desafiantes em termos do exercício da parentalidade (Relvas, 1996). Empiricamente, registam-se alguns estudos centrados no relacionamento pais--filhos durante essa etapa, por exemplo ao nível das práticas e dos estilos parentais (e.g., Camacho & Matos, 2007;Kerr, Stattin, & Özdemir, 2012) no entanto, poucos são aqueles que analisam a dimensão comunicacional de forma específica (Stamp, 2004).
PalavrasNuma perspectiva sistémica, a entrada das crianças na escola é "um momento capital de abertura do sistema familiar ao mundo extrafamiliar. (…) É a primeira crise de desmembramento com que a família se confronta" (Relvas, 1996, p. 114). Essa etapa do ciclo vital, que contempla os prim...