O presente estudo se propõe a problematizar a representação de personagens com deficiência física em obras de literatura infantil. A discussão é relevante visto que a temática vem se colocando em livros produzidos para a infância no Brasil, principalmente a partir de 2008, com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (Decreto nº 6.571, 2008). Embora a questão já aparecesse em algumas obras literárias em períodos anteriores, geralmente com uma abordagem estereotipada. As editoras de literatura infantil, diante de várias políticas e programas institucionais, acharam um filão no tema das necessidades especiais. Indubitavelmente, pressões sociais e políticas de inclusão interferem nas produções literárias e sua inserção também no contexto escolar. Neste sentido, analisar obras que não reforcem estereótipos ou remetam a deficiência como superação heroica, resignação e aceitação do destino, colocando as personagens em condições de subalternidade e/ou que inspirem piedade ou vontade divina, pode colaborar para a ampliação de olhares acerca do que é estigmatizado como deficiência e os limites e possibilidades do ser humano em diferentes condições e potencialidades. Comparar livros infantis que trazem esses dois aspectos — superação e aceitação do real versus resignação e superação heroica — pode ajudar leitores e crianças a compreender a deficiência dentro de uma normalidade e abrir boas perspectivas de discussão sobre a temática com esses leitores em formação.