Este trabalho se situa entre os campos da crítica literária, da estética e da ética e foi impulsionado pelo seguinte questionamento: quais são os dilemas que os textos atribuídos a Stela do Patrocínio, no livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome (2001), provocam à crítica literária? Diante dessa pergunta, ele variou tanto no sentido de ampliar o seu corpus e se tornar diverso em sua discussão, como no de cometer alguns desvios no formato padrão pressuposto aos trabalhos acadêmicos. Para lidar com os textos atribuídos a Stela, mulher "nega preta e crioula", que ficou 30 anos internada na Colônia Juliano Moreira, tornou-se fundamental discutir algumas questões de herança do discurso da crítica literária, suas premissas, seu jogo, suas regras de atuação e o papel do pesquisador frente aos dizeres dos sujeitos subalternizados, assim como se tornou necessário, ainda que de modo inicial, testar outros modos de olhar, escutar, sentir e experimentar esse falatório, que se constrói como um anedotário, que fala sobre os desafetos contra o corpo negro, que busca um "corpo sem órgãos".