Esta pesquisa trabalha com cerâmicas funerárias arqueológicas da região Amazônica que contiveram remanescentes de pessoas indígenas. Em respeito à memória destas pessoas e seus descendentes, assim como a colegas indígenas, pedimos licença para mostrar as imagens das urnas, bem como discutir sobre suas características, dentro de uma perspectiva da Arqueologia.Nas páginas a seguir encontram-se fotografias e ilustrações que reproduzem as formas e grafismos das urnas funerárias. Optamos por não expor nenhuma imagem de remanescentes humanos, mas descrevemos alguns aspectos dos tratamentos e gestos aplicados a eles, nos contextos funerários. Diante disso, agradecemos a oportunidade de trabalhar com as urnas e compartilhar um pouco do que temos aprendido com elas.
ResumoO presente trabalho propõe estudar a cerâmica funerária associada à Tradição Polícroma da Amazônia, classificada aqui na categoria de Estilo Polícromo, com foco em uma das tipologias mais reconhecidas dessas indústrias, as urnas funerárias. Nosso objetivo foi realizar uma análise iconográfica pautada pelos conceitos de Agência, Performance e Subjetivação, conforme elaborados na Antropologia da Arte e na Etnografia dos povos ameríndios, compreendendo as urnas funerárias como sujeitos corporificados, integrados às redes de socialidade e manutenção dos sistemas cosmológicos indígenas. A partir da imersão nos regimes de materialidade e corporalidade ameríndios, propomos novas leituras da iconografia polícroma e dos processos sociais que teriam levado à dispersão deste estilo ao longo dos territórios tangentes aos maiores rios amazônicos, entre os séculos VII e XVII. Concluímos que as urnas funerárias polícromas integram um sistema ritual consolidado dentro de extensas redes de relações na Amazônia pré-colonial, sendo a dispersão do estilo polícromo provavelmente vinculada a processos de incorporação regional de uma estética distintiva, que revela um sistema cosmológico amplamente compartilhado.