Introdução: A doença de Chagas é uma doença tropical negligenciada, de evolução crônica e com elevada morbimortalidade. Apesar da drástica redução na incidência da doença nas últimas décadas no Brasil, casos infectados no passado ainda impactam o sistema de seguridade social brasileiro. Objetivos: Analisar as características sociodemográficas de beneficiários da seguridade social brasileira acometidos pela doença de Chagas crônica nas formas clínicas cardíaca e digestiva no período de 2004 a 2016. Métodos: Estudo transversal com dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social brasileiro. Empregou-se regressão logística para estimar odds ratio brutas e ajustadas. Resultados: Houve concessão de 25.085 benefícios; a maioria relacionados a forma cardíaca da doença de Chagas (20.424; 81,4%), do sexo masculino (15.812; 63,0%) e residentes em áreas urbanas (16.051; 64,0%). A macrorregião Centro-Oeste apresentou maior frequência relativa de benefícios (31,1/100.000 habitantes). O sexo masculino (OR = 1,2; IC95% 1,1-1,2), faixa etária entre 30-49 anos (OR = 1,8; IC95% 1,4-2,1), residência em áreas rurais (OR = 1,6; IC95% 1,5-1,7) ou na macrorregião Sudeste (OR = 2,9; IC95% 2,4-3,4) foram as categorias das variáveis mais associadas à forma cardíaca. Indivíduos com a forma cardíaca apresentaram idade mediana maior no início da doença (45 anos; p < 0,001), porém menor no início da incapacidade laboral (50 anos; p = 0,01). Conclusões: O impacto da doença de Chagas na seguridade social brasileira decorre principalmente por causa da cardiomiopatia chagásica crônica. Esta forma clínica esteve associada principalmente a pessoas do sexo masculino, em idade produtiva importante, residentes em áreas rurais e da macrorregião Sudeste do Brasil. Palavras-chave: cardiomiopatia chagásica; doença de Chagas; seguridade social; previdência social; apoio social.