Prática das farmácias vivas do município de Fortaleza, Ceará, e a necessidade de uma ação de extensão sistêmica

Abstract

A Farmácia Viva (FV) foi idealizada no Ceará e originou a Política Pública em Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos, a qual vem buscando revitalizar essa atividade no Estado. O estudo de multi casos, baseado em análise do conteúdo, objetivou caracterizar as FVs de Fortaleza buscando conhecer a sua dinâmica e os atores sociais e analisá-las quanto à inovação e/ou conformidade com a Política Estadual. As FVs partilham contextos semelhantes, em áreas de pobreza e marginalidade social. Dedicam-se à produção, consumo e distribuição de plantas medicinais, e 30% também a atender à demanda de fitoterápicos do SUS. Os atores sociais previstos na Política estão pouco evidentes, exceto nas FVs da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Núcleo de Fitoterápicos. Comunitários, acadêmicos e pacientes, substituem aqueles parcialmente e se constituem simultaneamente em produtores, técnicos de transformação e beneficiários. Os hortos são agriculturas urbanas e espaço de aprendizagem e convivência, denotando sua multifuncionalidade. A relativa autonomia na cadeia produtiva implica em prestar atenção à produção integrada e a necessidade de se proporcionar assessoria sistêmica na produção, transformação e gestão. A relação entre normatização e prática sugere considerar as inovações dos sujeitos sociais, que são quem melhor pode retroalimentar a política.

Desenvolvimento das farmácias vivas associado a fatores sociodemográficos brasileiros

“…Quando foi lançada a PNPMF, em 2012, o Brasil apresentava cerca de 3 mil estabelecimentos de saúde com atividades de fitoterapia registradas, distribuídos por 815 Research, Society andDevelopment, v. 11, n. 2, e22211225524, 2022 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i2.25524 municípios. O Ceará, estado pioneiro no desenvolvimento do Programa Farmácia Viva, apresentava, em 2015, 99 registros de Farmácia Viva -dentre estas, 42,4% em funcionamento e instaladas com vínculos governamental e não governamental (Bonfim et al, 2018;Pereira et al, 2017;Rufino et al, 2018). No Distrito Federal, segundo a Secretaria de Estado em Saúde (Brasil, 2021), estão implementadas e em funcionamento duas unidades de Farmácia Viva, que produzem os medicamentos fitoterápicos a partir de plantas cultivadas nas próprias farmácias, posteriormente distribuídos para 22 unidades básicas de saúde.…”

Farmácia viva, o cuidado farmacêutico nas unidades básicas de saúde no Nordeste

“…A farmácia viva é composta por três modelos conforme seu nível de complexidade e proposta do projeto para implementação, onde o nível I realiza o cultivo e o acesso as plantas medicinais in natura em hortas comunitárias ou unidades do SUS com orientação sobre como preparar e usar corretamente os tratamentos caseiros, o nível II refere-se a produção e dispensação das plantas medicinais secas destinadas para uso nas Unidades Básicas de Saúde e por último o nível III que corresponde a preparação dos medicamentos fitoterápicos para dispensação nas unidades do SUS. Podemos ressaltar, que o programa Farmácia Viva pode atuar separadamente como também de forma sincrônica unicamente no nível III, o qual pode abranger os dois primeiros como pode-se verificar nas Unidades do Ceará graças a dedicação do Professor Matos e de sua equipe (Bonfim et al, 2019;Rufino et al, 2018).…”

Estudo Etnobotânico Qualitativo Com Profissionais E Usuários Do Sistema Único De Saúde De Juína – Mt, Brasil

“…A Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) e a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS reforçam a ideia não apenas do uso de plantas medicinais, mas do seu uso racional, pois, diferente do pensamento que as plantas medicinais são inofensivas, sabe-se que elas são responsáveis por intoxicações e reações adversas (Brasil, 2006a;Brasil, 2016b). Entendendo a importância de se conhecer mais o potencial das plantas medicinais brasileiras, o professor Dr. Francisco de Matos da Universidade Federal do Ceará, criou o projeto intitulado farmácia viva que tem como objetivo principal incentivar o uso de plantas medicinais locais, bem como os medicamentos preparados a partir delas (Rufino et al, 2018). O Sistema Único de Saúde (SUS) apresenta uma lista com a relação nacional de plantas medicinais de interesse ao SUS.…”