Esta pesquisa está embasada teoricamente na proposta da Hacquard (2006, 2010), para quem os modais são operadores sobre eventos. Em relação aos deônticos, a autora assume a existência de dois tipos: ought-to-do, que acessam o evento VP; e ought-to-be, que acessam o evento de fala. Deacordo com Pires de Oliveira e Rech (2016), os deônticos – tanto ought-to-do quanto ought-to-be – têm que checar o traço [+Ag] com um dos participantes do evento sobre o qual operam. Se essa hipótese estiver correta, é esperada uma restrição por parte de predicados inacusativos – que não selecionam argumento com propriedades de agente – a deônticos ought-to-do. Constatamos, entretanto, que inacusativos cujo argumento pode atuar nas fases preparatórias da eventualidade descrita no VP disponibilizam essa interpretação ao modal. Neste artigo, desenvolvemos uma proposta, a partir de Rothstein (2004), para explicar como esses inacusativos figuram com deônticos que são interpretados em posição baixa, em que a checagem do traço [+Ag] é feita com um participante do evento VP. A nossa solução foi postular uma estrutura de evento enriquecida para esses inacusativos, que têm em comum constituírem predicados de achievement relacionados a movimento em direção a um lugar físico (chegar, sair, entrar, aparecer, surgir...). Por fim, argumentamos – com base em diferenças relativas a aspecto e à seleção de um argumento que possaatuar nas fases preparatórias do evento – que nem todos os inacusativos apresentam uma estrutura enriquecida que permite sua interação com deônticos ought-to-do.