Quem tem medo dos antropólogo(a)s? Práticas científicas em novos cenários políticos

Abstract

Este artigo busca refletir sobre o percurso e a visibilidade social da antropologia no Brasil nas últimas cinco décadas, como resultado do avanço das chamadas "políticas de identidade" sobre o fazer antropológico. Analisamos os dilemas e desafios colocados para a prática científica no atual cenário político, no qual forças conservadoras se insurgiram contra a expansão dos direitos à pluralidade: indígenas, quilombolas, questões de gênero e diversidade sexual. Apresentamos, assim, o dossiê "Quem tem medo dos antropólogo(a)s? Dilemas e desafios para a produção e práticas científicas em novos cenários políticos", cujo propósito é oferecer múltiplas contribuições para refletir, dimensionar e qualificar os dilemas e desafios trazidos pelo novo e recente cenário político. palavras-chaveAntropologia -Brasil, ciência, política, conservadorismo

Mortes, invasões e garimpo em terras indígenas no estado de Roraima: entre mobilizações étnicas e conflitos sociais

“…45 Antonio Carlos de Souza Lima era o Presidente da Associação neste biênio e coordenou a estruturação de todo o amplo processo de defesa da ABA e dos antropólogos acusados no relatório final da CPI, medidas que continuariam sob a presidência de Lia Zanotta Machado (2017Machado ( -2018. Ver Souza Lima, Beltrão, Lobo, Castilho, Lacerda e Osorio (2018) desdobramentos da CPI que, inconclusa dentro de seu prazo regulamentar (encerrado em julho de 2016), foi recriada numa segunda etapa, ainda no processo de negociação do impeachment, só tendo sido fechada em maio de 2017.…”

Grammars of Damage and Suffering in Brazil Today

“…Their rights as minorities are threatened, and the scientific competence of the social sciences is equally questioned -with a special focus on Brazilian anthropology. The discipline has gained visibility in Brazil in recent decades along with the development of "identity politics" (Machado, Motta, Facchini, 2018) The relationship between political insertion and knowledge is an ethical imperative that contributes to refining understanding of the role of the social sciences, problematizing contexts and conditions in which their discourses emerge and incorporate the conflagrated fields. However, this relationship is now denounced as "ideology", precisely by those who strive to substitute paradigms and scientific theories with certain beliefs or religious concepts.…”

A avaliação de antropologia e arqueologia: análises de representantes e coordenadore(a)s junto à CAPES (1996-2017)

“…O chamado Qualis Periódicos passou a ser objeto de inúmeras discussões e, ao longo do período, a proposta oriunda das áreas de Exatas e Ciências da Vida de deixar o processo de qualificação de lado em prol do uso como métrica do chamado fator de impacto, construído por grandes bases bibliométricas e cientométricas e elaborado sobre a quantidade de citações de um periódico, foi uma pressão constante. Sabe-se perfeitamente que tais índices favorecem periódicos em língua inglesa publicados no eixo Estados Unidos da América-Inglaterra/Reino Unido-Canadá-Austrália, numa muito conhecida geopolítica linguística (ZANOTTA MACHADO, 2018). Ademais, para estas áreas o texto científico como artefato está presidido por outras regras, não tendo a parte discursiva a mesma dimensão que tem para muitas áreas das Humanidades (ainda que entre estas também existam diferenças), o que implicaria elevados custos de tradução que dificilmente contariam com recursos abundantes ou de fácil obtenção.…”

“…Os fatores de impacto dos periódicos das Humanas e das Ciências Sociais produzidos no Sul global são, claramente, muito mais baixos que os dos periódicos de Humanas produzidos no Norte global (MACHADO, 2018;GINGRAS;MOSBAH-NATANSON, 2010, p. 152). Capítulo assinado por Caillods (2016) no World Social Report 2016, publicado pelo International Social Science Council (ISSC), em copublicação com a United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO), mostra que, enquanto os fatores de impacto dos periódicos dos Estados Unidos alcançavam em SCOPUS 35,6% e em WOS 37,5%, o Reino Unido e a Irlanda do Norte alcançavam em SCOPUS 9,9% e em WOS 10,6%, o Brasil representava em SCOPUS 1,4% e em WOS 0,8%.…”