O artigo analisa aspectos do conhecimento indígena e o sistema de manejo de povos que vivem na região de transição Amazônia-Cerrado como adaptação e reação às mudanças ambientais em seus territórios. Trata-se de uma pesquisa etnográfica, realizada entre 2014 a 2020, com base em observação participante e entrevistas semiestruturadas com grupos de anciões, caçadores e lideranças indígenas. Entre o povo Gavião, falantes do tronco linguístico Macro-Jê que integram os chamados povos Timbira, o impacto negativo das mudanças ambientais provocadas pelo desmatamento e queimadas ilegais em seu território atinge as formas tradicionais de subsistência e as interações entre os humanos e a natureza em sua cosmovisão. A cosmografia gavião reconhece a natureza enquanto espaço povoado por diferentes seres e agências, com relações que oscilam na necessidade de aproximação ou afastamento entre si e das quais é preciso agir para garantir a reprodução de todo o povo. Com base nesses conhecimentos e frente às mudanças ambientais em suas terras, os povos Timbira elaboraram um amplo sistema de manejo, no qual o produto mais visível da articulação com o poder público e não governamental é o Plano de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas Timbira (PGTA). O conhecimento indígena articulado a um sistema de manejo ambiental tem revelado possibilidades de uso sustentável dos recursos naturais e efetiva participação indígena na gestão territorial da região de transição Amazônia-Cerrado.