INTRODUÇÃOO câncer do colo do útero (CCU) é o segundo tipo de câncer mais frequente entre as mulheres, com aproximadamente 500 mil casos novos por ano no mundo, sendo responsável anualmente pelo óbito de, aproximadamente, 230 mil mulheres 1 . Altas taxas de incidência do CCU são comumente observadas em países pouco desenvolvidos porque este tipo de neoplasia está associado a condições de vida precária, ausência ou fragilidade das estratégias de educação comunitária e à dificuldade de acesso a serviços públicos de saúde que realizem diagnóstico precoce e tratamento das lesões precursoras 2,3 . No Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o CCU é o mais incidente na Região Norte. Nas regiões Centro-Oeste e Nordeste é o segundo mais frequente e nas regiões Sul e Sudeste ocupa a terceira posição 1 . O câncer cervical tem em sua etiologia a presença de infecção por tipos oncogênicos do papilomavírus humano (HPV) 4 , além de fatores coexistentes, que favorecem a persistência da infecção, entre os quais: tabagismo, uso de contraceptivos orais, múltiplos parceiros sexuais, multiparidade, início precoce das relações sexuais, déficit nutricional e imunológico, além de fatores genéticos
.Dentre todos os tipos de câncer, o CCU é o que apresenta um dos mais altos índices de cura quando o diagnóstico é feito precocemente 1,6 . O exame citopatológico (Papanicolaou) é um método barato, factível, podendo ser utilizado no rastreamento de CCU em grandes grupos populacionais, em especial nos países em desenvolvimento 7 . No Brasil, o protocolo do Ministério da Saúde para prevenção de CCU em mulheres com vida sexual ativa e/ou idade ≤ 60 anos indica a realização de uma colpocitologia anual, sendo que após dois exames consecutivos negativos, essa triagem pode ser feita a cada três anos 2 . As mulheres são consideradas uma população particularmente vulnerável às infecções, especialmente às doenças sexualmente transmissíveis (DST) 8 . Mulheres que cumprem pena judicial em presídios, ou que aguardam a sentença jurídica em casa de detenção provisória, têm aumentada essa vulnerabilidade, uma vez que o cárcere lhes adiciona fatores que propiciam a aquisição e/ou transmissão dessas infecções, tais como a prática sexual desprotegida durante as visitas íntimas e a superlotação dos presídios associada ao histórico de violência social dentro do cárcere. Acrescenta-se a esses fatores, o perfil social e os comportamentos anteriores à carceragem, como baixo nível socioeconômico e de escolaridade; uso de drogas ilícitas; história de abuso sexual; prática sexual desprotegida associada à multiplicidade de parceiros e acesso precário aos serviços de saúde [8][9][10] .