O presente ensaio propõe-se a debater indícios de uma função ético-reparadora para a literatura e os estudos literários hoje. Para tanto, divide-se em dois momentos fundamentais, dois canais argumentativos que, sem um intuito totalizante, apontam as linhas gerais de um cenário em mutação. De um lado, a literatura do século XX é apresentada a partir da imagem de uma suposta negatividade ou intransitividade radical, capaz de “desobrar a obra” em sua “estética da supressão”. De outro lado, a partir de um debate introdutório em torno de alguns dos lugares de transitividade vislumbrados para a literatura neste início de século XXI, o literário é concebido agora como campo ético-reparador, responsável, entre outros, por “dar visibilidade”, “lembrar”, “reparar danos”, “confortar” etc. Resulta dessa transição a noção de um crescente desconforto em relação aos artefatos sociais que, inclusive no campo artístico, não se reconciliam com um utilitarismo que nada pode deixar intacto, nem mesmo a literatura.