Sexualidade, cultura e política: a trajetória da identidade homossexual masculina na antropologia brasileira

Abstract

ResumoNosso objetivo é explorar o modo pelo qual o "jeito" supostamente brasileiro de organizar as categorias ou identidades sexuais (especialmente em relação à homossexualidade masculina) vem sendo tematizado na antropologia desde finais dos anos 1970, transformando-se às vezes num eixo para a construção/manutenção de uma identidade nacional caracterizada como exótica, retardatária e "não-ocidental". Também traçamos paralelos entre dois momentos da reflexão sobre as relações entre sexualidade, cultura e política, procedendo a uma breve revisão de algumas contribuições teóricas e empíricas anteriores que antecipam problemas e conceituações centrais dos atuais estudos de sexualidade, relacionados à instabilidade/fluidez das identidades sexuais e à imbricação da sexualidade em relações de poder e hierarquias sociais dinâmicas e contextuais.

A antropologia e o processo de cidadanização da homossexualidade no Brasil

“…In Brazil, the end of the 1970s and the beginning of the 1980s was not characterized only by discussions that opposed those activists who felt that the issue of "minorities" (blacks, Indians, women, homosexuals) should be subordinate (at least for the time being) to the broader issue of democratization and social revolution. As MacRae clearly recorded (1990) in his work on the Somos -SP Group, the gay movement itself was also divided as to whether or not it should rally around a homosexual identity (Carrara and Simões, 2007). The dilemma between "being" (ser) or "being" (estar) 14 homosexual was so intense that (as MacRae remarks in his ethnography of the group) it ended up being one of the causes that led to Somos-SP's fragmentation (Carrara and Simões, 2007:59). Interestingly, the clash between those styles of activism 15 that valued homosexual identity and those that saw identity as a source 14 Here the author references Portuguese gramatical structure which has two words for "to be": ser, which indicates a more permanent and essential state of being (to be tall, for example) and estar, which indicates a more transient and contextual state of being (i.e.…”

O peso do corpo negro feminino no mercado da saúde: mulheres, profissionais e feministas em suas perspectivas

“…a questão de gênero nas cenas de parto? Partilhando da perspectiva dos estudos sobre "marcadores sociais da diferença" (CARRARA, 2007;PISCITELLI, 2013e 2008e ZAMBONI, 2013 e interseccionalidade (CARNEIRO, 2009;BIROLI, 2015;BRAH, 2006e CRENSHAW, 2002? Essas inquietações, por fim, parecem nos ter inserido na cena recuperada no início deste artigo e mais especificamente em uma etnografia de uma casa de parto.…”

O campo de estudos socioantropológicos sobre diversidade sexual e de gênero no Brasil: ensaio sobre sujeitos, temas e abordagens

“…Dessa forma, ressalta-se que a sexualidade é um vetor de estratificação e opressão, que ela conta para a produção social das diferenças e das desigualdades. Essa ideia, que encontra uma formulação poderosa em um ensaio muito influente de Gayle Rubin (1984), costuma ser associada à teoria queer, embora tenha nítidas relações de continuidade com linhas da antropologia da sexualidade que se fazia no Brasil desde o final dos anos 1970 (Carrara e Simões, 2007). Com efeito, pode-se argumentar que esses problemas não estiveram fora do alcance das preocupações da antropologia com classificações e sistemas classificatórios, em termos da distinção entre as lógicas que articulam categorias e atribuições identitárias e os processos pelos quais indivíduos tornam-se sujeitos e atores sociais, apropriando-se de -ou sendo levados a se reconhecer emdeterminadas identidades.…”