Silencioso e penetrante: o processo de financeirização a partir das instituições promotoras da inclusão financeira

Abstract

Resumo: Este artigo tem o objetivo de apresentar a rede de organizações que, hoje, atua para implementar a chamada inclusão financeira. Essa cadeia se estrutura internacionalmente e estabelece relações ad hoc com diversos países do globo. Estimula e apoia ações para a criação e circulação de produtos e serviços financeiros para a população pobre com a justificativa de promoção de seu bem-estar e proteção. A análise se baseia em pesquisa documental e dedica-se ao caso brasileiro. Caracteriza a ramificação de atuação e instituições envolvidas na disseminação desse ideário e oferece elementos para reflexão a respeito de seus efeitos sociais.

Financial intermediation and innovation: linking international agents and local investors

“…These professionals disseminate financial products among representatives of local elites, contributing to the expansion of the circuit of legitimation of finance, in the sense of Bourdieu (2005). With the spread of digital financial platforms, AIAs, in the Brazilian finance space since 1965, were resignified as agents of stockbrokers and financial education agents who gained ground in the strategy of attracting new customers, following the trend of central economies, where financial education began to be adopted against the classic forms of "improper sales" Ertürk & Solari (2007) and at the same time to educate clients on "updated" forms of investment and aligned with the interests of dominant groups Cunha (2018).…”

“…According to Ertürk (2016, p. 69), even after the 2007 financial crisis, the logic of generating shareholder value, widespread among bank executive directors, has been responsible for mis-selling thousands of products, affecting thousands of customers, as in the case of the Lloyds Banking Group, in the United Kingdom. Cunha (2018Cunha ( , 2020 draws attention to the complicity of governmental, national and international bodies regarding financial education policies proposed by the dominant elite representatives, presenting financial inclusion as a social action, overlooking the elites´ direct interests in disseminating the dominant culture and contributing to the integration of all citizens into the financial system. Pereira et al (2019) indicates the main institutions that have presented financial education initiatives in Brazil, focusing on agents operating in the capital market (CVM, 2021d).…”

“…Studies on day-to-day financialization indicate how financial agents linked to retail have used financial education programs to spread the dominant culture of investments and help increasingly financially literate individuals to strengthen financialized capitalism Cunha 2018Cunha , 2020. Given this scenario, a topic related to day-to-day financialization is the diffusion of financial products linking the major agents of global financial markets and local investors.…”

Brasil da financeirização: do consumo familiar à cooptação da assistência social

“…Não à toa, os impactos causados no orçamento familiar pela maior aquisição de bens consumo e bens salário, em razão do crédito, traduz-se em endividamento, comprometimento de renda e inadimplência, sobretudo da população nas baixas faixas de renda (Cunha, 2018). Em dezembro de 2017, 25,2% dos tomadores de crédito com renda de até 1 salário-mínimo encontravam-se com os fundos comprometidos para pagamento de juros e amortização de dívidas.…”

“…Assim, como um dos vetores do processo de financeirização crescente no Brasil, o consumo é variável expressiva na observância da maior ou menor incidência da finança na vida das famílias (Cunha, 2018), em especial daquelas com renda per capita até ½ salário-mínimo, público abarcado pelas políticas assistenciais no Brasil. Utilizando-se de alguns dos itens de consumo e serviço observados no Critério de Classificação Econômica Brasil para as classes A a E (ABEP, 2019) e encontrados nas PNAD e PNADC para os anos de 2012 a 2017, percebe-se ter havido um crescimento no acesso a esses produtos nas famílias de renda mais baixa, como demonstra a Tabela 1.…”