A B S T R A C T
I N T R O D U Ç Ã ONas duas últimas décadas, tem-se observado grande número de publicações dedicadas à relação médico-paciente. O modelo tradicional que caracteriza essa relação tem sido descrito por alguns estudiosos 1-9 como aquele centralizado no médico, na doença e na medicalização, pautando-se em uma relação que tende a ser mais autoritária, na qual o paciente e suas necessidades têm papel passivo e o médico passa a ser o detentor de toda expertise e conhecimento. Essa forma de relação baseia-se no modelo biomédico de doença -que define o cuidado médico como tratamento dos sinais e sintomas físicos em termos quantificáveis -, no qual a cura é definida por indicadores médicos objetivos 1,2,6-9 . Esse modus operandi em saúde, que negligencia outras contextualizações dos elementos semiológicos do processo saúde-doença-cuidado, confere desvantagem para o setor e seus usuários 3,4 .Ao contrário do que se observa para a área médica, são poucos os estudos teóricos e empí-ricos no campo da nutrição voltados para o debate sobre a relação nutricionista-paciente na prática clínica. Entretanto, as publicações identificadas na literatura específica sinalizam a influência epistemológica da biomedicina na constituição do modelo vigente de relação nutricionista-paciente no cuidado clínico-nutricional na contemporaneidade 10-14 .A complexidade inerente ao sistema de saúde e os progressos da medicina e nutrição têm suscitado discussões acerca da relação profissional de saúde-paciente na prática clínica [10][11][12][13][14][15] . Por um lado, não se deve desprezar a relevância de tais progressos para o campo da saúde; por outro, constata-se que a dimensão humana, vivencial e psicossociocultural da doença bem como os padrões e as variabilidades na comunicação verbal e não verbal precisam ser considerados no processo relacional entre o profissional da saúde e os usuários 11,15 . Assim, o estabelecimento de relações de confiança, respeito e reciprocidade entre nutricionista e paciente deve permear as práticas de atenção à nutrição e à saúde no intuito de ampliar a sua humanização e o vínculo terapêutico.No contexto da política de humanização das práticas em saúde, a aplicação de tecnologias do cuidado humanizado ainda esbarra em uma cultura técnica que carece de revisão sobre os marcos do poder, da verticalização das relações e da promoção de um ambiente mais favorável à criatividade e ao acolhimento [15][16][17] . É nesse contexto que a concepção de clínica ampliada, apresentada por NUTRIÇÃO CLÍNICA AMPLIADA E HUMANIZAÇÃO | 745Rev. Nutr., Campinas, 24(5):743-763, set./out