Sobre o talento de ser fabulosa: os “shows de travesti” e a invenção da “travesti profissional”

Abstract

Resumo O objetivo deste artigo é analisar o processo de construção da chamada “travesti profissional”. Tal processo está conectado ao surgimento de um interesse cada vez maior do público brasileiro e internacional para os “shows de travesti”, eventos famosos nas décadas de 1960 a 1980. São aqui analisados os espetáculos International Set e Les Girls, pioneiros nesse gênero, e os seus impactos nas trajetórias de vida de uma geração de pessoas que hoje se identificam como travestis. Os dados para a escrita deste artigo foram obtidos junto a fontes documentais e orais: impressos de jornais e revista e relatos de indivíduos que vivenciaram esse período.

Pessoas Transgênero Brasileiras e o Contexto de Trabalho: Revisão da Literatura Nacional

“…A primeira categoria identificada refere-se à construção de sentidos e identidades através do trabalho, com estudos que discutem os impactos e a importância das diferentes formas de inserção profissional na construção dos trajetos e identidades das pessoas trans (Bortolozzi, 2015;Davi & Toledo-Bruns, 2015, 2017Nascimento, 2014;Nogueira & León, 2012;Patrício, 2012;Silva & Ornat, 2018;Soliva, 2018Soliva, , 2019Teixeira, 2008). Esse conjunto de estudos reconhece que a esfera do trabalho nas vidas de pessoas trans geralmente é demarcada pela prostituição, fruto de um processo de exclusão sistêmica que limita as oportunidades em outros espaços laborais.…”

“É tudo uma máfia”: trânsitos e tensões na busca de um lugar no palco

“…Prazer, sou arte meu querido então pode me aplaudir de pé" 5 É importante salientar que as drags que conhecemos hoje são tributárias de uma longa história de luta por reconhecimento social e lugar na cena artística brasileira. Os trabalhos de Green (2000), Bortolozzi (2015), Lion (2015), Trevisan (2018) e Soliva (2016Soliva ( , 2018) recuperam e analisam as expressões artísticas de travestis e transformistas retraçando e ressaltando a importância do Carnaval (em especial dos bailes de fantasias), do Teatro de Revista e do entretenimento noturno carioca e paulistano desde o início do século XX.…”

Notas sobre o Teatro Musical de Eduardo Dussek

“…Cabia ao doutor solucionar o "problema" das moças. Ao fim do show, a famosa canção, que tanto marcou a vida de toda essa geração, era entoada em coro (Soliva, 2018). Pegando para si o papel sensual da mulher no Teatro de Revista, o grupo de travestis estreou em grande estilo na Boate Stop da Galeria Alaska (Copacabana, Rio de Janeiro), atraindo, estranhamente, o público conservador da classe alta e recebendo amplo apoio da imprensa (Veneziano, 2013, p.117).…”