“…A base do discurso do BM nunca foi a análise empiricamente fundamentada de processos de luta social e política que condicionaram a realização de reformas agrárias, mas sim a montagem de uma caricatura -o estatismo -ao qual se atribuiu a responsabilidade pelo suposto fracasso da imensa maioria das reformas agrárias realizadas pelo mundo afora. Em outras palavras, a crítica ao "modelo desapropriacionista" foi feita de maneira abstrata, homogeneizadora e enviesada, desconsiderando a análise dos conflitos sociais e das relações de poder entre grupos e classes sociais que definiram a natureza, o grau, a extensão, o ritmo, a direção e mesmo o refluxo das reformas agrárias, sempre muito heterogêneas entre si, como mostra farta literatura internacional (DE JANVRY, 1981;DORNER, 1992;FOX, 1992;PUTZEL, 1992;SOBHAN, 1993;THIESENHUSEN, 1995;BORRAS, 2007;LEITE et al, 2004;MEDEIROS;LEITE, 2009;SPOOR, 2010SPOOR, e 1997FAJARDO, 2014). Todos os processos de reforma agrária que ocorreram no mundo tiveram dimensões técnicas, mas foram, antes de tudo, resultado de divisões políticas na sociedade, às vezes, inclusive, com a atuação de forças externas (como no caso do Japão).…”