“…O pregador Nóbrega expressa um anseio em relação aos seus leitores e, indiretamente, em relação ao seu objetivo máximo (a evangelização do gentio); e, o que é importante, o faz em linguagem sermônica, um elemento que não pode ser perdido de vista. Por outro lado, essa idealização da Igreja primitiva, que animou diferentes movimentos heterodoxos ao longo do período medieval (Cohn, 1970, p. 37-41;Leff, 2002;Rodrigues, 2012, p. 527-530), já tinha sido incorporada, décadas antes de Nóbrega incluí-la em sua carta, pelo humanismo retórico, no qual ao "retorno aos Antigos", à apropriação da herança da Antiguidade pretendida pela filologia humanista, correspondia um retorno "ad fontes", às fontes da fé (em especial o texto neotestamentário e a teologia patrística), valorizadas justamente em virtude de sua pretensa pureza. Esse anseio encontrava-se, assim, no coração do apelo humanista pelo retorno à "uetus theologia", à teologia feita à moda antiga, em contraste com os teólogos "novos" (ou neoterici) que trabalhavam à maneira dos escolásticos (Rodrigues, 2012, p. 63-100).…”