Ptolomeu é conhecido pela sua obra científica, especialmente pelas suas pesquisas astronômicas contidas no Almagesto. Defendo, porém, que Ptolomeu também possui um pensamento filosófico, com posições originais e que dialogam com a tradição e com os filósofos a ele contemporâneos. Essa filosofia ptolomaica não é um apêndice dispensável de suas pesquisas científicas, mas antes constitui o fundamento delas, e é delas indissociável. Ptolomeu advoga que a matemática é a única ciência que produz conhecimento, e que o homem só pode alcançar a virtude e se tornar semelhante ao divino através do estudo da astronomia. O caso de Ptolomeu não é uma exceção no cenário da Antiguidade, mas um exemplo do que defendo ser uma relação íntima entre filosofia e astronomia que passa por diferentes fases: uma primeira fase de sobreposição dos trabalhos dos filósofos e dos astrônomos, uma segunda, em que a sofisticação crescente dos modelos astronômicos torna a relação filosofia-astronomia mais nuançada, e uma terceira, em que os astrônomos, de posse de modelos capazes de fornecer previsões, passam a atuar também no campo filosófico, propondo concepções epistemológicas e éticas. Essa relação entre astronomia e filosofia é um caso de uma relação sempre existente entre ciência e filosofia, e assim defendo que a história da ciência deva ser praticada conjuntamente com a filosofia para que se possa apreender essa relação.