Trocas ortográficas de consoantes oclusivas no português brasileiro: dados de pelotas/rs - Brasi

Abstract

Neste trabalho, observa-se de que forma a ocorrência de imprecisões fonético/fonológicas pode refletir nas trocas ortográficas relacionadas aos segmentos oclusivos. Para tanto, foram coletados dados de fala e de escrita de onze crianças, com faixa etária entre sete e oito anos, estudantes do segundo ano de uma escola pública, por meio de três etapas metodológicas. A partir do corpus obtido, nota-se maior ocorrência de trocas de oclusivas na relação surda/sonora e em sílabas constituídas por encontros consonantais. A análise de outiva não evidenciou a correspondência dessas trocas na fala, no entanto, análises acústicas revelaram indícios do papel do aprimoramento fonético/fonológico na escrita dos segmentos oclusivos.

A Influência Da Fala Na Escrita Das Oclusivas: O Papel Do Vot Em Trocas Ortográficas

“…Nesses casos o contexto também parece exercer seu papel. No que concerne a influência do contexto na escrita, Damé (2017) reporta, a respeito desse mesmo corpus, que há indícios de influência do contexto na ocorrência de trocas ortográficas.…”

“…Considerando contexto vocálico, tonicidade, posição da oclusiva na palavra e estrutura silábica, Damé (2017) aponta os seguintes resultados: (i) contexto vocálico: primeiramente por meio do teste Friedman ((x 2 (2) = 16,687, p = 0,000) verifica-se diferença significativa para grafia de "b". A partir do pareamento das três vogais utilizadas "a', "i" e "u", foi verificado, por meio do teste Wilcoxon (Z = -2,972, p = 0,003), para /a/ x /i/, e (Z = -3,517, p = 0,000) para /a/ x /u/, que a vogal /a/ favorece a grafia dessa consoante; (ii) tonicidade: mostra-se significativa a influência do contexto tônico, para ocorrência a escrita de "t", evidenciada por meio do teste Wilcoxon (Z = -2,383, p = 0,017); (iii) posição da oclusiva na palavra: a posição medial na palavra também se mostrou relevante para a ocorrência adequada de "t', a partir do teste Wilcoxon (Z = -2,104, p = 0,035) e; (iv) estrutura silábica: a estrutura CV se mostrou mais provável à ocorrência de acertos para "p" (Z = -2,483, p = 0,013), "t" (Z = -2,561, p = 0,010) e "d" (Z = -2,876, p = 0,004), significância constatada por meio do teste Wilcoxon.…”

“…No entanto, nem sempre o papel da fala é observado de modo direto, como, por exemplo, quando a criança escreve menino como mininu por influência explícita da oralidade. Há casos, como pode ser constatado ao observarmos as trocas que ocorrem com os segmentos oclusivos (DAMÉ, 2016;FERREIRA-GONÇALVES, 2017;2018), em que o papel da oralidade só é constatado quando utilizamos outras ferramentas metodológicas, como a inspeção acústica dos dados.…”

“…É esperado que a produção da fala desses segmentos já esteja estável em nível escolar e não sejam verificadas de outiva mudanças na fala, logo, trocas na ortografia não seriam decorrentes dessas. Sanches (2003), Cristofolini (2008) e Damé (2017) indicam a possibilidade da influência de aspectos fonético/fonológicos na ocorrência dessas trocas, sendo reflexo de uma estabilização na duração do VOT nas produções desses sujeitos.…”