Discorreremos neste artigo sobre a compressão lexical ou micronarrativa, uma via de apreciação analítica para o conteúdo de vocábulos derivados, integrada ao marco teórico da Gramática das Construções. Nesse modelo, há uma percepção dos derivados como cápsulas de conteúdo semântico-lexical comprimido; assim, e.g., numa palavra como doleira, encontrar-se-ia comprimido um complexo de informações que, distendido, seria algo como ‘(i) pequena bolsa presa à frente, geralmente com um único compartimento, usada sob as roupas — especialmente por turistas —, como precaução contra roubo ou furto de cédulas (dólares, euros etc.), cartões, passaportes ou outros bens imprescindíveis em uma viagem ou deslocamento; (ii) mulher que negocia dólares norte-americanos no mercado paralelo’. Trata-se de uma proposta de análise oriunda de releituras e adaptações ao léxico das lições de Turner (1996) sobre a mente literária, inicialmente aplicada por Botelho (2004), Santos (2005) e Carmo (2005) à descrição de produtos sufixados do português contemporâneo. Baseando-se em tais trabalhos, Lopes (2016a, 2016b) fez, por primeira vez, a aplicação do supramencionado modelo teórico para o deslindamento histórico-diacrônico da semântica de vocábulos prefixados — num intercruzamento entre Etimologia, Morfologia Histórica e Gramática das Construções —, ao que seguiram alguns outros estudos (SIMÕES NETO, 2016; SOLEDADE; SIMÕES NETO; LOPES, 2017; LOPES, 2018), com aplicações e contribuições mais aperfeiçoadas. Baseando-nos em revisitações a esses e a outros trabalhos, delinearemos os principais tópicos caracterizadores da compressão lexical, apresentando algumas mostras de sua aplicação a estruturas linguísticas em sua trajetória diacrônica do latim ao português arcaico e moderno.