A reflexão que apresentamos aqui toma como referência noções da teoria das práticas sociais de Pierre Bourdieu e de seus colaboradores, com o objetivo de examinar aspectos da política educacional brasileira em vigência dos anos 1960 aos dias de hoje. Partimos do pressuposto que nossa meritocracia escolar tem sido financiada historicamente pelas famílias, favorecendo aquelas que estão mais bem posicionadas para desenvolver estratégias de reconversão dos seus capitais (econômico, cultural, social, simbólico). Diferentemente do que ocorre na França, a meritocracia escolar promovida pelo Estado brasileiro avança muito lentamente e ganha força no Plano Nacional de Educação (2014/2024). O quadro teórico mobilizado para esta reflexão nos ajuda a desnudar artimanhas de reprodução social e, ao mesmo tempo, a apostar na Escola e na Universidade como espaços de frenagem das desigualdades e de luta por justiça social. Duas dimensões foram destacadas: uma centrada nas crianças e jovens deixados à margem do processo de escolarização, outra centrada nos “sobreviventes”, naqueles que têm conseguido escapar do seu “destino escolar” e que, progressivamente, vão povoando e matizando nossas escolas e universidades.