O abandono escolar no período em que se instauraram as aulas remotas por conta da COVID-19 no Brasil teve um aumento de 3% entre jovens de 6 a 18 anos, quando comparado o primeiro trimestre de 2020 com o primeiro trimestre de 2021 (ALVES, 2022). Esse é o contexto desta pesquisa, que se volta para a compreensão do abandono em uma escola de ensino fundamental localizada em um município de pequeno porte do Cariri Ocidental paraibano. Usamos como aporte teórico o pensamento de Pierre Bourdieu (2007) sobre o rendimento escolar diferencial, que enfatiza elementos importantes do habitus de classe como determinante social no rendimento escolar: a origem social e o capital cultural transmitido pela família. A nossa pesquisa é de cunho qualitativo e tem como objetivo geral interpretar o contexto das famílias cujos filhos não participaram nem das aulas nem das atividades do sistema de ensino remoto, sendo esse estudo uma análise do abandono escolar. Estudamos os casos de quatro famílias, realizando oito entrevistas semiestruturadas: uma com o estudante e uma com um de seus responsáveis, ouvidos separadamente. Constatamos que os habitus dos sujeitos dessa pesquisa são semelhantes, tendo em vista a posição na estrutura social, o histórico similar de baixa escolarização e inserção precoce no mercado de trabalho e a aproximação quanto a costumes e gostos. Sendo assim, os entrevistados compartilham uma estrutura de relação comum, uma representação similar sobre escolarização, aspirações sociais e dificuldades semelhantes, ou seja, o destino semelhante. Compreendemos que a origem social (o habitus), a falta de capital cultural para auxiliar os filhos na empreitada que foram as aulas remotas, a maior valorização do trabalho em detrimento dos estudos, a culpabilização individual pelo destino dos filhos, junto com a falta de políticas públicas que busquem extinguir as disparidades decorrentes da origem social, foram os determinantes do abandono escolar que identificamos através das entrevistas.