http://dx.doi.org/10.5007/1984-8412.2017v14n1p1808Apresenta-se, neste artigo, uma reflexão acerca dos processos de subjetivação inscritos na prática testemunhal, a partir do exame de fotografias que compõe o “Projeto 1:4 retratos da violência obstétrica” e posts que o divulgam no Facebook. Por meio de uma abordagem discursiva, são analisadas as posições subjetivas inscritas neste material, voltando a atenção para as formas com as quais a violência é simbolizada na materialidade da língua e do discurso, produzindo um dizer político de denúncia da agressão e do abuso médicos. Na composição material tecida entre imagem e palavra, formulada no ensaio fotográfico, o testemunho se reveste de uma força performativa que acompanha os processos de transformação e deslocamento ideológicos, produzindo possibilidades de identificação para as mulheres em contraposição aos sentidos de naturalização da violência de gênero estrutural à sociedade patriarcal.
Apresenta-se, neste artigo, uma análise de recortes de dois documentários sobre a rede de abusos da seleção estadunidense de ginástica artística, escancarada depois de uma série de denúncias feitas contra o médico da seleção, Larry Nassar. Objetiva-se compreender o funcionamento do testemunho, por meio de uma abordagem discursiva, articulado à instância do trauma, voltando a atenção para o julgamento do médico que, apesar de não ter sido julgado com júri, foi obrigado pela juíza do caso, Rosemarie Aquilina, a ouvir os testemunhos de todas as acusantes que decidissem se pronunciar, o que produziu um cenário de dizer político de denúncia das agressões e abusos sofridos e silenciados no decorrer dos anos. Nos documentários examinados, os testemunhos inscritos nas brechas e falhas do jurídico se revestem de uma força política, constituindo um acontecimento que atualiza sentidos dominantes em uma sociedade patriarcal.
Do cárcere à invenção: gêneros sexuais na contemporaneidade,coletânea organizada por Dantielli Assumpção Garcia, Jacob dos Santos Biziak e Lucília Maria Abrahão e Sousa, textualiza a potência e a multiplicidade de abordagens dos gêneros sexuais, a partir do que os organizadores designam, apoiados em Rancière, "partilha do sensível" (p. 7). Ela materializa as contradições da sociedade contemporânea no que diz respeito aos gêneros sexuais, os retrocessos que repetidamente se impõem, mas, também, os avanços nos campos da teoria e da militância, os confrontos e as resistências à lógica estabilizadora de padrões, comportamentos e representações acerca dos gêneros e das sexualidades. Ela não nos restringe, portanto, ao cárcere do/no pensamento, mas aponta um horizonte de liberdade.Densa e instigante, a coletânea apresenta pontos de vista diversificados e, por vezes, conflitantes, mantendo uma posição que não apaga as contradições que permeiam o encontro entre diferen-1 Pós-doutoranda na FFCLRP/USP -El@dis, com financiamento Fapesp (proc. 2016/20876-6); Professora colaboradora no Mestrado em Linguística da UNIFRAN. Doutora em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp.
Resumo Este artigo apresenta uma reflexão sobre as formas de significar a violência obstétrica na atualidade, através da análise de recortes de duas campanhas de combate a este tipo de violência: #partocomrespeito, produzida e difundida pelo semanário brasileiro Época; e Voces contra la violencia obstétrica, veiculada pela associação argentina Las Casildas. Amparado em pressupostos teóricos da Análise de Discurso elaborada por Michel Pêcheux e seu grupo, problematiza as campanhas em seus modos constituição, formulação e circulação, enquanto produtoras de diferentes sentidos para a violência. Tecidos na relação entre palavras, imagens e sons, são sentidos que se formulam por meio do jogo entre o visível e o invisível. Nos recortes, a imbricação entre imagem e testemunho constitui um discurso sobre a violência obstétrica, tecido no movimento entre o dizível e o indizível do trauma, entre a injunção a tudo dizer e o silêncio em suas diferentes versões, conforme teorizado por Orlandi.
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