Apresenta os primeiros resultados de uma investigação a respeito das orientações para a educação da criança-problema contidas em compêndios de higiene infantil redigidos por médicos brasileiros. Destinadas às mães e professoras encarregadas da educação das crianças, essas obras procuravam explicar a origem dos problemas de comportamento mais comuns e ofereciam instruções para a superação dessas dificuldades que prejudicavam o desenvolvimento e o ajustamento da criança à família e à escola. A análise preliminar de dois manuais, à luz do referencial teórico de Foucault e outros autores sobre a governamentalidade, indica que os compêndios examinados procuravam, acima de tudo, orientar os adultos a fazer um bom uso do poder na relação com as crianças.
Neste texto pretende-se discutir as seguintes questões: Quais asprincipais motivações dos pediatras que se dispuseram a escrever manuais de puericultura nas primeiras décadas do século XX? Como se procurou tornar acessíveis às mães os conhecimentos científicos sobre a maternidade e os cuidados com os bebês? Como os pediatras procuraram orientar as mulheres em relação à gestação, ao parto e aos cuidados com seus bebês? Para compreender essas questões, parte-se de uma análisehistórica de manuais de puericultura destinados às mães e publicados no Brasil entre 1918 – quando foram reunidas em um livro as lições de Higiene Infantil proferidas no Instituto de Proteção e Assistência à Infância pelo Dr. Moncorvo Filho – e 1968, ano do surgimento da revista Pais & Filhos, que promoveu uma grande divulgação dos conhecimentos sobre a puericultura no Brasil. A análise baseia-se em textos de Michel Foucault e Nikolas Rose sobre a “governamentalidade” e a “biopolítica”.
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