Resumo Os sambaquis do litoral do Espírito Santo foram pouco estudados pelas pesquisas arqueológicas realizadas no estado. Apesar de serem conhecidos desde finais do século XIX, foram recorrentemente considerados uma extensão marginal dos desenvolvimentos culturais que aconteciam no Rio de Janeiro. À escassez de informações sobre as características dos sítios, soma-se a ausência de datações 14C bem referenciadas, as quais impedem o entendimento da profundidade temporal e da evolução da ocupação humana pré-colonial no litoral do estado. Este artigo apresenta as metas e os resultados da retomada das pesquisas arqueológicas nos sambaquis do litoral norte do Espírito Santo, em Linhares. Até o momento, foram escavados dois sambaquis cuja idade recua em quase 2000 anos o registro de presença humana na costa do estado. As novas pesquisas seguem um método padronizado para escavação dos sítios, especialmente desenhado para a primeira caracterização dos sambaquis, o qual envolve a construção de um banco de dados digital e a incorporação de sistemas informatizados para gerenciamento das escavações. As pesquisas revelaram evidências da ocupação humana na região anterior ao máximo transgressivo holocênico (sítio Suruaca 20, datado em c. 6800 cal. AP), momento em que manguezais, restingas e florestas de tabuleiros constituíam o ambiente costeiro.
Este artigo pretende expor os dados obtidos até ao momento com as intervenções realizadas no sítio arqueológico de habitat pré-histórico de Castelo da Loureira (Alvaiázere-Leiria). Os trabalhos realizados prendem-se essencialmente com sondagens de verificação crono-estratigráfica e prospeção geofísica, tendo-se registado vestígios com paralelos em sítios arqueológicos da região que se integram no calcolítico e idade do bronze.
Foi realizada a análise da malacofauna presente em seis pequenos sambaquis localizados em Jaguaruna-SC com idades entre 3080 e 580 anos AP (Eliza, Encruzo, Campo Bom I, Campo Bom II, Campo Bom III e Arroio da Cruz I). Foram identificadas 24 espécies de moluscos sendo 10 gastrópodes e 12 bivalves. pertencentes a 6 e 10 famílias respectivamente. Todas as espécies eram de ambiente marinho ou estuarino com exceção de duas espécies do caracol terrestre Megalobulimus. Constatou-se a existência de dois padrões distintos quanto à constituição da matriz malacológica dos sítios. Nos sambaquis mais antigos (Eliza e Encruzo) havia maior diversidade de espécies sendo a maioria procedentes de um paleoambiente lagunar e estuarino (Anomalocardia brasiliana, Phacoides pectinatus e Erodona mactroides) incluindo manguezal (Cassostrea brasiliana), com grande variação no tamanho intraespecífico e a ocorrência de indivíduos íntegros com as valvas fechadas. Nos sambaquis com datações mais recentes (Campo Bom I, II e III, e Arroio da Cruz I) havia a presença majoritária de espécies do litoral de mar aberto (Mesodesma mactroides e Donax hanleyanus) com maior uniformidade intraespecífica no tamanho, sendo que a matrix malacológica do Campo Bom II diferenciou-se pela ocorrência adicional de grandes indivíduos do bivalve Tivela zonaria e do gastrópode Pachycymbiola brasiliana, inferindo uma construção diferenciada. Este estudo reforçou a importância da avaliação da matriz malacológica em sambaquis como indicativo do paleoambiente e das opções culturais de seus construtores, bem como que a diversidade de espécies poderia sugerir um uso ou função distinta do sítio.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.