O presente artigo trata da relação entre as classes sociais e a política econômica, a política social e a política externa nos governos Lula e Dilma. Durante esses governos houve uma mudança no interior do bloco no poder: a grande burguesia interna brasileira ascendeu politicamente e passou a apoiar-se em uma ampla frente política que abarca, inclusive, classes populares. Denominamos "neodesenvolvimentismo" o programa político dessa frente - a política de desenvolvimento possível nos marcos do capitalismo neoliberal. Os governos Lula e Dilma não romperam com esse modelo de capitalismo, mas introduziram, em decorrência das classes sociais que representam e nas quais se apoiam, mudanças importantes na economia, na política e na atuação internacional do Estado brasileiro.
The transition from the FHC to the Lula administration produced an epochal change within the power bloc. Large-scale international financial capital lost power, while the internal grande bourgeoisie ascended politically because of a policy-oriented broad-front approach that included even the popular classes. The Lula and Dilma governments did not break with the neoliberal model for capitalism, but because they represented a particular fraction of the capitalist class and because they owed their support to particular classes they introduced major changes in the economic policy, the political orientation, and the international performance of the Brazilian state. Na passagem da era FHC para a era Lula, ocorreu uma mudança no interior do bloco no poder: o grande capital financeiro internacional perdeu força e a grande burguesia interna brasileira ascendeu politicamente, apoiando-se numa ampla frente política que abarca, inclusive, classes populares. Os governos Lula e Dilma não romperam com o modelo de capitalista neoliberal, mas introduziram, em decorrência da fração da classe capitalista que representam e em decorrência também das classes nas quais se apoiam, mudanças importantes na economia, na política e na atuação internacional do Estado brasileiro.
O artigo é fruto de pesquisa ainda em curso e procura fazer um tipo de análise que foi, em grande medida, deixado de lado no Brasil. Reatando com uma rica tradição da Sociologia e da Ciência Política brasileiras, que se formou nos anos 1960 e 1970, o autor tenta examinar os interesses das frações da burguesia brasileira que chegam a agir como frações distintas no processo político nacional, bem como as relações desses interesses com a política de Estado. São examinados também os conflitos entre essas frações burguesas e as relações que, enquanto frações burguesas de um país dependente, elas entretêm com o imperialismo e com o campo das classes populares. Sempre em uma abordagem tentativa e inicial, o artigo faz referência também à mudança na hierarquia do poder burguês, isto é, à mudança ocorrida no interior do bloco no poder, durante os mandatos presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva. O artigo apresenta a hipótese segundo a qual a nova vaga de internacionalização do capitalismo dependente brasileiro não impediu que um poderoso setor da grande burguesia interna continuasse atuante e melhorasse sua posição no bloco no poder ao longo da década de 2000.
<p>O artigo sustenta que a crise política atual é uma crise da política<strong> </strong>neodesenvolvimentista e que ela foi provocada, fundamentalmente, pela ofensiva restauradora do campo político neoliberal ortodoxo, e não pelo ascenso do movimento popular. Mostra também que a crise da política neodesenvolvimentista convive com uma situação de instabilidade do presidencialismo autoritário e da democracia.</p><p><strong><br /></strong></p><p><strong>Palavras-chave: </strong>crise política, neodesenvolvimentismo, governo Dilma, PT,<strong> </strong>impeachment.</p>
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