O trabalho analisa elementos do poder das instituições financeiras, destacando o controle sobre o fluxo de capitais - caracterizado como hegemonia financeira -, a constituição dos grupos econômicos ou financeiros, a estrutura de representação dos interesses de classe do setor e a participação deste no processo político e nos aparatos de decisão do Estado. Considerando a reestruturação financeira ocorrida no Brasil na década de 1990, o trabalho traça um perfil dos dez maiores bancos privados a partir de indicadores econômicos e sociopolíticos selecionados. Para além de sua posição como meros intermediários financeiros, identifica-se em que medida esses bancos configuram-se como grupos econômicos e, especialmente, como unidades de articulação mais ampla, que se revela em conexões com o Estado e com a própria organização e atuação de classe nos âmbitos corporativo e político.
O sistema financeiro passou por importantes transformações nas últimas duas décadas, cujas características básicas são a desregulamentação dos mercados e a liberalização dos fluxos de capitais. Tais mudanças, que permitiram ao capital tran-1 O texto constitui um dos resultados do Projeto Integrado de Pesquisa "América Latina: uma visão sócio-política das transformações e das perspectivas do sistema financeiro", subprojeto "Empresariado Financeiro na América Latina", realizado com apoio do CNPq. Integram a equipe de pesquisa Ary Minella (coordenador) e os bolsistas Elflay Miranda, Gabriel Schmitt, Ivandro Valdameri, além de Iara Monteiro Attuch, que atuou até outubro de 2000. Agradeço as observações e sugestões que foram apresentadas pelos participantes do Seminário Temático Para onde vai o capitalismo no Brasil? Dilemas e perspectivas das Empresas e dos Empresários, realizado durante o XXV Encontro Anual da ANPOCS, realizado em Caxambu, Minas Gerais, de 16 a 20 de outubro de 2001 e também aos professores do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política que debateram o trabalho em Seminário Interno realizado em julho de 2002. Agradeço especialmente a Maria Antonieta Leopoldi, Marcos Novelli e Reginaldo Moraes pelas observações encaminhadas. E a Denise Gros, pela apurada revisão e sugestões pertinentes, que em muito contribuíram para melhorar o texto.
O trabalho analisa a estrutura de representação de classe do empresariado financeiro na América Latina com o objetivo de identificar as conexões que se estabelecem entre as associações de bancos a partir da presença comum de conglomerados ou grupos financeiros que atuam, simultaneamente, na diretoria de várias entidades, em diferentes países, tomando como referência o ano de 2006. Trabalha-se com a hipótese da formação de redes transassociativas, adotando-se a metodologia de Análise de Redes Sociais; parte dos resultados foi comparada com dados disponíveis para o ano de 2000. Entre outros aspectos, constatou-se: a) um número elevado de conexões entre as associações; b) a centralidade na rede de dez conglomerados ou grupos financeiros que atuam em associações de bancos em três ou mais países e c) as associações que apresentam maior grau de conexão estão localizadas na Argentina, Chile, Brasil, Costa Rica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai e Peru. Concluiu-se que grande parte da estrutura de representação de classe do empresariado financeiro na América Latina encontra-se transnacionalizada, reforçando nossa hipótese. Discute-se o alcance e o significado dessa rede à luz da literatura internacional, destacando-se, entre outros aspectos, o potencial de intercâmbio de informação, a possibilidade de articular e coordenar posicionamentos e ações corporativas e políticas, a vinculação com outras instâncias de organização e defesa dos interesses de classe do setor financeiro.
A partir da constatação da existência de conexões entre as associações de representação de classe dos bancos na América Latina, que se denominou rede transassociativa, o trabalho analisa a conexão dessa rede com organizações constituídas nos Estados Unidos para atuar politicamente ao redor do mundo. O foco é o Center for International Private Interprise (CIPE), constituído em 1983, vinculado à Câmara de Comércio dos Estados Unidos, e que promove reformas políticas e econômicas orientadas para o mercado. É uma das quatro organizações centrais do National Endowement for Democracy (NED), entidade financiada pelo governo daquele país. Examina-se especialmente o caso da Argentina e do Peru. Constata-se como a relação dessas entidades com organizações latino-americanas constitui uma base estrutural para o processo de construção de hegemonia de caráter neoliberal e como se articula com o sistema financeiro. O procedimento metodológico inclui a pesquisa bibliográfica e documental.
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