Há mais de uma década temos nos dedicado a compreender a questão ambiental, a partir das ciências humanas, como fenômeno que tem produzido pactos sociais e disposições subjetivas singulares em nossa sociedade. Sujeito Ecológico é o conceito que temos utilizado, desde o início dos anos 2000, para identificar um conjunto amplo de disposições ecologicamente orientadas. Este conceito define um lugar de constituição subjetiva e objetiva de crenças, valores e comportamentos. Diz respeito a um campo social delimitado pela preocupação ambiental. Ao ser reconhecido como uma arena socialmente legítima, adquire a potência capaz de instituir processos de identificação, crenças e valores éticos, estéticos e morais e instaura um horizonte imaginativo.A imaginação ecológica atravessa a vida social como uma potência criativa, redefinindo a paisagem que habitamos e as nossas relações com os outros organismos e objetos que formam o mesmo mundo no qual existimos. Ao mesmo tempo, transforma práticas ambientais cotidianas de preservação do ambiente, aprendidas às vezes recentemente, em predisposições e atitudes que se impõem aos indivíduos e aos grupos sociais como um habitus. Este horizonte imaginativo não se esgota, no entanto, na criação e na reprodução constante de modos de ser e viver, mas também incide sobre as formas pelas quais pensamos e conhecemos o mundo. Nosso modo de habitar o planeta não está separado do nosso modo de conhecê-lo. Esta indissociabilidade destes dois modos torna plausível fazer uma releitura de um conjunto de autores contemporâneos sob a chave compreensiva do que estamos denominando de epistemologias ecológicas. Nosso argumento é que este horizonte ecológico imaginativo vem corroborando deslocamentos epistemológicos no pensamento ocidental, contribuindo para o questionamento de delimitações que se estabeleceram como trincheiras intransponíveis no campo científico, como as que separaram a experiência humana do mundo, o mundo em sua existência objetiva e o conhecimento do mundo.
O presente artigo discute as práticas de aperfeiçoamento de si e do cuidado com o ambiente, voltadas para a saúde e o bem estar físico, mental e espiritual. O foco desta discussão está dirigida para os pontos de interseção entre práticas ecológicas e religiosas, que dão origem a processos de sacralização da natureza e de "naturalização" do sagrado. O campo de interesse empírico são as práticas religiosas de grupos ecológicos e as práticas ecológicas de grupos religiosos. Elegemos como referenciais metodológicos e teóricos as contribuições da filosofia da percepção de Merleau-Ponty, da psicologia ecológica de Bateson, da antropologia fenomenológica de Thomas Csordas e da epistemologia ecológica de Tim Ingold, na medida em que estas perspectivas somam-se no intento de colapsar as dualidades mente e corpo, sujeito e ambiente, natureza e cultura. Encontramos no conceito de paisagem, enquanto corpo do mundo, um ponto de convergência destas diferentes abordagens. Assim, a hipótese que acionamos é a de que a paisagem, enquanto corpo do mundo, pode ser tomada como o solo da cultura, no sentido de que o sujeito humano, em sua condição corporal de ser no mundo, está não apenas implicado na paisagem, mas essa é a condição de seu engajamento no mundo e na cultura.
IntroduçãoOs estudos mais recentes que investigam as interfaces entre religião e turismo no mundo contemporâneo têm enfatizado as diferenças entre os tipos sociais característicos desses "deslocamentos espaciais" (turista, peregrino, viajante), considerando-os como diferentes modalidades de vivenciar as experiências veiculadas no âmbito de um evento ou localidade. Argumentando a favor desse enfoque, que valoriza a pluralidade das experiências e narrativas que se entrelaçam, fazendo dos contextos turístico-religiosos situações irremediavelmente plurais, buscamos problematizar a construção ou a "invenção" de determinados caminhos ou rotas de peregrinação no Brasil que têm como inspiração o Caminho de Santiago de Compostela.Nosso objetivo principal é investigar a pluralidade de narrativas em torno da construção social desses caminhos, destacando as interfaces entre religião e turismo no contexto das peregrinações que têm como modelo o Caminho de Santiago e que surgiram no Brasil a partir de 2000, envolvendo prefeituras, Igreja Católica, agências de turismo e organizações da sociedade civil, especialmente as Associações dos Amigos dos Caminhos.Nosso pressuposto é de que esses caminhos têm em comum o fato de
O presente trabalho tem como objeto de estudo a experiência dos ecocaminhantes, um grupo de praticantes de caminhadas ecológicas que, apostando no cultivo de um bem-estar físico, mental e espiritual, realiza caminhadas em meio à natureza. A partir da etnografia da experiência dos caminhantes, procura-se investigar a vivência das trilhas como lugares repletos de forças restauradoras, fluidos energéticos para saúde do corpo e da alma. Com base no esforço teórico de uma proposta que pretende, sobretudo, traduzir a fenomenologia para o campo antropológico e, assim, colapsar dicotomias como mente e corpo, natureza e cultura, sujeito e objeto, busca-se refletir sobre o caráter terapêutico das caminhadas, compreendidas pelos caminhantes não apenas como exercícios físicos, mas também como uma via de acesso às questões relativas à alma.
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