No Brasil, quando tratamos da plataformização do trabalho, é ainda incipiente a literatura sobre o fenômeno que denominamos turkerização do trabalho, relacionado à terceirização de microtarefas em plataformas específicas, como Appen e Amazon Mechanical Turk, por exemplo. Por meio de um estudo teórico-reflexivo, objetivamos demarcar algumas particularidades do trabalho turkerizado, de maneira a contribuir com a exploração da heterogeneidade e polissemia que assume a noção de trabalho digital na atualidade. Ao passo que representa a radicalização da flexibilização do trabalho, compreendemos a turkerização como o arquétipo de formas de trabalho que parecem se proliferar em nossa sociedade, marcadas notadamente por algumas características centrais: 1) o trabalho tende a ser cada vez mais encarado como serviço; 2) exacerba-se a competição a ponto de trabalhadores de diversas geografias do mundo concorrerem entre si, em tempo real, na busca por rendimentos financeiros; 3) os processos de trabalho são cada vez mais condicionados pela gestão algorítmica, o que limita as vias de comunicação entre os trabalhadores, coloca obstáculos à mobilização coletiva e produz efeitos paradoxais no âmbito das dinâmicas de prazer, sofrimento e reconhecimento no trabalho.
Em 2020, após o desencadeamento da pandemia da COVID-19 e das exigências de distanciamento social definidas por autoridades sanitárias, observamos sucessivas queixas de ansiedades e angústias, oriundas da comunidade discente da universidade onde estamos inseridos. Logo, propusemos a realização de um grupo operativo, nomeado Grupo de Trocas de Vivências em tempos de pandemia, direcionado a estudantes universitários, com o objetivo de construir estratégias de apoio psicossocial com os participantes. O grupo, composto por sete estudantes, foi iniciado em junho de 2020, os encontros ocorreram semanalmente, de forma remota (on-line) e foi finalizado no mês de setembro de 2020. Tal dispositivo foi baseado nas contribuições de Pichon-Rivière, em diálogo com a Análise Institucional e a Psicossociologia. No presente artigo, são discutidos os nove principais temas que emergiram nos encontros, em contextos variados, ao longo dos meses em que transcorreu o projeto de extensão. Enfim, compreende-se o grupo como um espaço que favoreceu os processos de emancipação e construção de novas experiências, o que permitiu o acolhimento das demandas afetivas apresentadas pelos estudantes. Ademais, o grupo foi veículo de fortalecimento dos vínculos entre os estudantes, mesmo em tempos de isolamento social, o que proporcionou maior autonomia com relação às reflexões sobre o momento atual.
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