APRESENTAÇÃOCultura & Sociedade. Pensamos este dossiê tomando como pressuposto a relação intrínseca entre esses dois termos. O título também se remete ao livro clássico de Raymond Williams, consistentemente resenhado por Ugo Rive! i nesta edição n. 7 da Revista Idéias. Nessa obra, o marxista britânico defende que a noção moderna de cultura emerge em meio à experiência histórico-social inaugurada pela revolução industrial e adquire contornos em reação às mudanças introduzidas pela modernidade. Na esteira desse processo, certa tradição (em particular a do romantismo inglês) concebeu a cultura -e a arte, em específi co -como um âmbito dissociado da sociedade: dissociado porque superior, lugar de preservação dos valores e iluminações contrapostos à mesquinhez da experiência capitalista. Em outra perspectiva, a tradição de pensamento à qual se fi lia Williams, e que Maria Elisa Cevasco denomina de "tradição materialista", busca justamente os elos entre produção cultural e processo social, entre arte e contexto histórico, entre forma estética e realidade sócio-histórica. Os modos de apreensão desses liames, entretanto, são diversos e um dos nossos interesses foi trazer à discussão problemáticas teórico-metodológicas e análises concretas que trabalham com essas questões.Os estudos de cultura em abordagens relacionadas às Ciências Sociais e à História vêm se expandindo largamente ao longo dos últimos anos e este dossiê não tem a pretensão de contemplar de maneira eclética as diversas tendências e enfoques teóricos que se apresentam na área. Ao contrário, consideramos que os ensaios apresentados neste dossiê Cultura & Sociedade: para uma análise cultural materialista -escritos por professores convidados, com consolidado trabalho na área -compõem um todo coerente e bem articulado, não obstante a independência e a singularidade de cada perspectiva. Âmbitos diversos da produção cultural, como literatura, cinema e música, são analisados a partir de olhares sempre atentos às imbricações com o processo social,
Intentamos lançar um olhar sociológico sobre a filmografia de um conjunto de cineastas “paulistas” (leia-se estabelecidos em São Paulo) que ao longo das décadas de 1960 e 1970 estiveram situados numa espécie de “entre-lugar”, tendo, de um lado, o Cinema Novo como principal referência estética e cultural e, de outro, as condições de produção cinematográfica que se apresentavam em São Paulo, as quais passavam em larga medida pela chamada Boca do Lixo paulistana, lócus de produção eminentemente comercial. Ingressados na vida adulta antes do golpe de 1964, oriundos dos meios universitários e com tendências políticas de esquerda, os cineastas Roberto Santos, Luiz Sérgio Person, Maurice Capovilla, Sérgio Muniz, João Batista de Andrade, Francisco Ramalho Jr. e Renato Tapajós compartilhavam com os cinemanovistas um “caldo de cultura” comum e não se identificavam organicamente a núcleos de cineastas que produziam em São Paulo, como os “universalistas” Rubem Biáfora, Walter Khouri e Flávio Tambellini ou os jovens do Cinema Marginal. No entanto, situados na metrópole paulistana e sem desfrutar do mesmo prestígio e influência dos cineastas que compunham o núcleo duro do Cinema Novo, esses “paulistas do entre-lugar” realizaram seus filmes sob condições de produção diferenciadas, legando um conjunto de obras temática e estilisticamente heterogêneo. Nosso intuito é lançar luz sobre essa filmografia, analisando as interpretações do Brasil que daí emergem, seja quando se coloca em tela o Brasil “profundo”, rural, com elementos tradicionais e arcaicos – como em A hora e a vez de Augusto Matraga (1965) e Um anjo mau (1971), de Roberto Santos; Terra dos Brasis (1971) de Maurice Capovilla e nos filmes de Sérgio Muniz para a Caravana Farkas – seja no agudo retrato da modernidade urbana capitalista, com destaque para a abordagem crítica da questão do trabalho e da indústria cultural, como em São Paulo S.A. (Luiz Sérgio Person,1965); Bebel, garota propaganda (Maurice Capovilla, 1967); Anuska, manequim e mulher (Francisco Ramalho Jr.,1968); O filho da televisão (João Batista de Andrade,1969); Fim de semana (Renato Tapajós,1976) e O homem que virou suco (João Batista de Andrade,1979).
A escolha para a entrevista que compõe o dossiê Cultura & Sociedade: para uma análise cultural materialista não foi fortuita. Ao contrário, pensamos em um nome que corroborasse a linha temática e analítica pretendida. Decidimos então por convidar a Profa. Iná Camargo Costa que não só contribuiria para o debate sobre as questões de fundo que estão na base deste dossiê, mas também trataria de um âmbito da produção cultural não abordado nos ensaios: o teatro. Militante, pesquisadora, professora, dramaturga e livre-docente pela Universidade de São Paulo, Iná Camargo Costa pode ser considerada, hoje, uma das maiores expoentes dos estudos de teatro no Brasil. Autora de livros como A hora do teatro épico no Brasil (1996), Sinta o drama (1998), Panorama do rio vermelho (2001) e Nem uma lágrima: teatro épico em perspectiva dialética (2012), Iná suscita, desde os seus primeiros trabalhos, discussões que façam convergir, inequivocamente, aspectos políticos e estéticos. Seus pressupostos analíticos ancorados na teoria marxiana juntamente com a perspectiva estética herdada do teatro épico de Brecht fazem com que suas análises sejam sempre instigantes e profícuas.
A conclusão de uma tese é daqueles momentos de encerramento de ciclo em que vemos "passar um filme na nossa cabeça". Da concepção do projeto à satisfação que envolve a escrita desses agradecimentos, passaram-se alguns anos de trabalho, com percalços, encontros e desencontros, vida vivida. Na construção da tese vamos também nos construindo, em longo processo intelectual e pessoal, muitas vezes estranho aos alheios às singularidades da vida acadêmica. Enfim, é encerrada uma etapa e, não obstante a conhecida solidão que caracteriza a empreitada -na qual, em última instância, está o pesquisador sozinho às voltas com seu objeto -, é justo agradecer às muitas pessoas e instituições que contribuíram para sua concretização. Começo agradecendo à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), instituições que deram o apoio material indispensável para que a pesquisa se realizasse. A primeira, mediante bolsa de doutorado concedida via Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH-UNICAMP) no primeiro ano de pesquisa; a segunda concedendo-me bolsa de doutorado nos anos subsequentes (processo 2012/05268-9), assim como a bolsa BEPE (Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior), processo 2013/10883, que permitiu um estágio de um ano em Paris, França. O suporte material provido por essas instituiçoes foi o alicerce que viabilizou o pleno desenvolvimento da pesquisa, possibilitando não só a dedicação exclusiva da pesquisadora, como as visitas a acervos, as entrevistas, as participações em congressos e tantas atividades que irrigaram decisivamente a investigação. Igualmente basilar considero a orientação do Prof. Marcelo Ridenti, a quem sou muito grata pelo apoio permanente durante os anos que se estendem do mestrado ao doutorado. As pesquisas do Prof. Marcelo Ridenti têm sido referência desde meus estudos de iniciação científica e sua orientação, sempre serena, foi contribuição imponderável. Atenta e presente e ao mesmo tempo marcada pela liberdade e autonomia, sua orientação se constituiu não somente no apoio fundamental durante a pesquisa como também, e sobretudo, num modelo acadêmico para a pesquisadora. Ao Prof. Marcelo agradeço ainda pela oportunidade de estágio docente em dois semestres de sua disciplina Cultura e Marxismo para alunos de graduação. Ao Prof. Michel Marie, supervisor do estágio de pesquisa em Paris, agradeço pela generosa acolhida que tornou possível o enriquecedor estágio junto à Université Sorbonne Nouvelle -Paris 3, experiência que proporcionou uma nova visada sobre o objeto de pesquisa ao alargar os referenciais teóricos e propiciar o estabelecimento de correlações e reflexões não previstas.Esta tese também não teria se realizado na forma como se realizou se não tivesse contado com a colaboração dos entrevistados que cederam uma parte de seu tempo e memórias aportando elementos-chave para a pesquisa. Em ordem alfabética, agradeço a
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