APRESENTAÇÃOCultura & Sociedade. Pensamos este dossiê tomando como pressuposto a relação intrínseca entre esses dois termos. O título também se remete ao livro clássico de Raymond Williams, consistentemente resenhado por Ugo Rive! i nesta edição n. 7 da Revista Idéias. Nessa obra, o marxista britânico defende que a noção moderna de cultura emerge em meio à experiência histórico-social inaugurada pela revolução industrial e adquire contornos em reação às mudanças introduzidas pela modernidade. Na esteira desse processo, certa tradição (em particular a do romantismo inglês) concebeu a cultura -e a arte, em específi co -como um âmbito dissociado da sociedade: dissociado porque superior, lugar de preservação dos valores e iluminações contrapostos à mesquinhez da experiência capitalista. Em outra perspectiva, a tradição de pensamento à qual se fi lia Williams, e que Maria Elisa Cevasco denomina de "tradição materialista", busca justamente os elos entre produção cultural e processo social, entre arte e contexto histórico, entre forma estética e realidade sócio-histórica. Os modos de apreensão desses liames, entretanto, são diversos e um dos nossos interesses foi trazer à discussão problemáticas teórico-metodológicas e análises concretas que trabalham com essas questões.Os estudos de cultura em abordagens relacionadas às Ciências Sociais e à História vêm se expandindo largamente ao longo dos últimos anos e este dossiê não tem a pretensão de contemplar de maneira eclética as diversas tendências e enfoques teóricos que se apresentam na área. Ao contrário, consideramos que os ensaios apresentados neste dossiê Cultura & Sociedade: para uma análise cultural materialista -escritos por professores convidados, com consolidado trabalho na área -compõem um todo coerente e bem articulado, não obstante a independência e a singularidade de cada perspectiva. Âmbitos diversos da produção cultural, como literatura, cinema e música, são analisados a partir de olhares sempre atentos às imbricações com o processo social,
A questão do tempo histórico no cancioneiro de Chico Buarque de Hollanda não é algo novo. Desde as suas primeiras composições essa problemática foi abordada, ainda que sob diferentes pontos de vista. Nesse artigo, buscarei somar o assunto a duas diretrizes que, de certo modo, estão relacionadas: o processo de modernização à brasileira e o fim da perspectiva de entoar o país do futuro. Para tanto, o texto divide-se em duas partes. Primeiro, demonstro como a obra de Chico Buarque perpassada pela melancolia radical vincula-se à perda da imagem do país do futuro e, em segundo, analiso como esse “futuro” se concretizou. O primeiro ponto sintetiza-se em várias canções do início da carreira de Chico, porém, a questão será aqui considerada por meio da análise sócio-histórica de “Pedro Pedreiro” (1965) que materializa o declínio das utopias à esquerda. Para sintetizar as consequências desse declínio, já no contexto da redemocratização, me deterei em “Bye Bye Brasil” (1979) e “Pelas Tabelas” (1984). Saliento que “Pedro Pedreiro” servirá como uma espécie de introdução ao principal motivo do texto: o diagnóstico do tempo preso em si mesmo no capitalismo tardio, em conjunto com as transformações do processo de modernização à brasileira.
In this paper I present the initial results of my doctoral research, the purpose of which is to analyse representations of nationhood as expressed in the songs of two renowned Brazilian composers, Chico Buarque and Caetano Veloso. I begin by exploring the concept of the "national-popular" (characterised as a cultural project of the Brazilian left) in Brazilian Popular Music (MPB) in order to understand the different ideological and aesthetic projects of these composers. I take as a working hypothesis the argument that the representation of national projects in their songs-and in the field of MPB more generally-began to decline from the late 1970s, and this decline gained pace in the 1980s, and particularly in the 1990s, with the impact of globalisation on Brazilian culture. In this sense, it is possible to argue that by the 1990s the songs of Buarque and Veloso, as representative of the national projects of the left, had entered a crisis.
O pesquisador José Ramos Tinhorão anunciara em 2004 que a canção havia acabado! O rap e a música eletrônica sinalizariam esse fim. A assertiva possibilitou o desenrolar de uma série de debates sobre o status da canção popular brasileira que adentrara o século XXI. Chico Buarque de Hollanda, por exemplo, também apontou para mudanças neste campo, admitindo que o rap seria a “negação da canção” tal qualele havia conhecido e, talvez, um sinal de que a “canção já era, passou”. Cada qual à sua maneira, seja na perspectiva de crítica, seja no diagnóstico de que algo tem mudado no plano da canção, estes comentários evidenciam que não há como desconsiderar o impacto trazido pelo rap dentre as expressões musicais contemporâneas.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2025 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.