Este artigo focaliza como os sujeitos, estudantes de línguas estrangeiras (doravante LEs) da escola regular básica, mobilizam sentimentos e atitudes relacionados a um imaginário social, construído historicamente por meio de práticas políticas, econômicas, educacionais e, ao mesmo tempo, discursivas, que se sustentam por meio de uma memória sobre o papel e o valor das LEs em nossa sociedade. Assim, o objetivo proposto é explorar a relação que os estudantes estabelecem com as línguas a partir de enunciações coletadas em uma entrevista de caráter narrativo, a fim de identificar as condições de produção de determinados enunciados. Teoricamente, os estudos de Bourdieu (1983, 1998, 2000) são fundamentais – em especial os conceitos de habitus, capital simbólico (cultural, social e linguístico) e mercado linguístico –, ao considerarmos que em qualquer interação há lucros linguísticos que mobilizam interesses e que fazem funcionar as relações de poder (FOUCAULT, 2016). A análise deflagra que é no dispositivo escolar onde: se constroem saberes de âmbito ideológico sobre as LEs; se constitui o sujeito que enuncia sobre as LEs ao materializar o valor que as línguas adquirem no mercado linguístico; e se evidencia, manuseia, reproduz ou transforma o acesso aos capitais simbólicos na forma como são distribuídos socialmente.
A partir da análise do discurso francesa, como suporte te órico, analisaremos o enunciado “hoje a aula é na rua”, que circulou durante as ocupações das escolas estaduais paulistas em 2015. Esse enunciado faz emergir diferentes sentidos para aula e rua e ressignifica o já estabelecido para essas palavras, construindo uma realidade de resistência. A atividade analítica ressaltará o intradiscurso, o qual permitirá ativar o interdiscurso desse enunciado que reemerge nas mobilizações estudantis em tempo e espaço distintos, resgatando as memórias instituídas a partir das formações discursivas em que esse enunciado atua.
Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados. Embates ideológicos em torno da palavra "diálogo" durante a implementação da reorganização escolar de 2015Ideological conflicts on the word "dialogue" during the implementation of the school reorganization of 2015 Universidade Estadual Paulista RESUMO -Segundo a perspectiva bakhtiniana do discurso, as palavras possuem dois modos concomitantes de existência na linguagem, um deles é o que permanece estável e reiterável, o qual chamamos de significação; o outro é único e irrepetível, denominado tema, o qual permite que haja embates entre diferentes vozes sociais demonstrando, assim, as ideologias que as operam. Tendo em vista esses conceitos desenvolvidos pelo Círculo de Bakhtin, analisaremos os discursos produzidos durante as ocupações dos secundaristas nas escolas públicas estaduais paulistas, no segundo semestre de 2015. Essas ocupações foram motivadas em resposta ao projeto de reorganização escolar proposto pelo governo estadual. Neste trabalho, cotejaremos dois discursos: o dos contrários à reorganização escolar, ou seja, os secundaristas, e o do governo, os proponentes da medida. Esses discursos fizeram emergir embates ideológicos em torno da palavra "diálogo" e é em torno dessa tensão que construiremos nossas reflexões. Para a análise do discurso dos secundaristas, utilizaremos como corpus o documentário "Acabou a paz: isto aqui vai virar o Chile" de Carlos Pronzato, e o discurso do governo analisado neste artigo corresponde aos enunciados produzidos pelo Governador Geraldo Alckmin, pelo então secretário da educação Herman Voorwald e por Fernando Padula, ex-chefe de gabinete da secretaria da educação, retirados de entrevistas concedidas a diferentes corporações midiáticas. A análise, elaborada com o suporte teórico bakhtiniano, fez emergir os diferentes sentidos relacionados às diferentes vozes sociais que a palavra diálogo assumiu durante o período estudado.Palavras-chave: diálogo, vozes sociais e ideologia, círculo de Bakhtin, reorganização escolar.ABSTRACT -According to Bakhtin's perspective on discourse, words possess two concomitant ways of existence in language. One of them is that which remains stable and reproducible; it is called meaning. The other one, the theme, is unitary and unreproducible, which allows clashes of different social voices to exist, demonstrating the ideologies which operate over them. With the concepts developed by the Bakhtin Circle, we will analyze the discourses produced during the occupations made by high-school students in the state public schools of São Paulo, in the second semester of 2015. These occupations were motivated in response to the project of school reorganization proposed by the state government. In the present work, we will contrast two discourses: the one from those who were against the school reorganization, that is, the high-school students, a...
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