O texto discute a possibilidade de criar um corpo não orgânico na escrileitura (CORAZZA, 2008) de pesquisas em educação marginais – as quais brotam em meio ao cruzamento entre arte/filosofia – de modo a produzir desvios das/nas formas instauradas pelas investigações em Educação ditas Majoritárias. O artigo deriva da conclusão da tese de doutorado do autor e orientada pela sua coautora. Nela, retoma-se a prática do corpo-sem-órgãos enunciada por Artaud em sua conferência radiofônica Para acabar com o julgamento de deus (1947) e expandida por Deleuze & Guattari em sua produção filosófica conjunta, em especial nos cinco volumes dos Mil Platôs, perseguindo modos de ensaiar uma esquizopesquisa que se faria por sobrejustaposições inventivas, como colagens transcriadoras de imagens e linhas de escrita em tensão constante, as quais afetam o corpo no decorrer do percurso investigativo, coagindo o pensamento a pensar.Palavras-chave: Sobrejustaposições; Arte e filosofia; Pesquisa em Educação.
ResumoNo intuito de retomar a célebre pergunta feita por Spinoza -"O que pode um corpo?" -, o artigo sustenta sua problemática em torno da questão "O que pode e o que aprende um corpo?" Nesse sentido, procura-se percorrer algo que no texto é designado como uma teoria em ato. Para tanto, num primeiro momento, busca-se elucidar as possibilidades teóricas e os locais de fala utilizados operacionalmente para produzir tal construção. Apoiase a noção de um corpo fendido, ou seja, um corpo que se abre para outras possibilidades de ser corpo, distantes das comumente instituídas (corpo autônomo, consciente, racional) e, desse modo, produz uma teoria em ato que não mais reconhece a clássica separação corpo versus mente (alma, pensamento). Em seguida, associa-se à referida questão-problema a prática do corpo-semórgãos, cunhada pelo dramaturgo francês Antoni Artaud em sua conferência radiofônica de 1947 (Pour en finir avec le jugement de dieu) e retomada por Deleuze e Guattari em sua ampla produção filosófica com o intuito de, desse modo, propor a ação de pensar como fluxo que atravessa os atos de ler e escrever em meio à vida enquanto esteiras de criação e invenção, ao passo que não somente representam, mas produzem realidades. Palavras-chaveCorpo -Corpo-sem-órgãos -Teoria em ato -Educação -Escrita -Leitura. AbstractWith the purpose of resuming the notorious question asked by Spinoza -What can a body do? -, this paper supports the assertion of What can a body do and what does it learn? Thus, I attempt to cover what in the text is designated as a theory in act. For such, at a first stage, I try to elucidate the theoretical possibilities and the places of speech operationally utilized to produce such construction. I support the notion of a cracked body, that is, a body that opens itself to other possibilities of being a body, away from the commonly instituted manners (autonomous, conscious, rational body) and, as a result, a theory in act is produced which no longer acknowledges the classical separation of body against mind (soul, thinking). Next, the issue-problem is referred to the practice of the organ-less-body, minted by French playwright Antoni Artaud in radio broadcast conference in 1947 (Pour en finir avec le jugement de dieu) and resumed by Deleuze and Guattari in their wide philosophical production with the purpose of, consequently, propose the action of thinking as a flow that goes through the acts of reading and writing amidst life taken as tracks of creation and invention, while they not only represent but also produce realities.
O artigo busca, a partir da frente filosófica instaurada por Deleuze e Guattari na obra Mil Platôs (1995a, 1995b, 1996, 1997a, 1997b), pensar o campo educativo – o qual implica nas relações entre corpos, espaços, práticas, metodologias – como um fenômeno de estratificação de agenciamentos territoriais. Desse modo, a prática do Corpo-sem-Órgãos, enunciada por Artaud (Para acabar com o julgamento de Deus, 1947) e evidenciada também por Deleuze e Guattari em Mil Platôs, pode se tornar cara no sentido de gerar alguns movimentos de desterritorialização/desestratificação dos agenciamentos territoriais estratificados que formam o campo educativo. Isso implica pensar em pequenas educações, enquanto práticas marginais, que se alojam em uma grande Educação, já deveras instituída e legitimada, possibilitando aos corpos envolvidos em tais processos o “preenchimento de uma potência” (DELEUZE, 1988/1989, s/p) que lhes confere alegria produtiva e inventiva. Por fim, o artigo problematiza uma educação/formação sem órgãos que desinstitui as relações entre aprendizes, docentes e espaços educativos de formação de uma relação hierárquica, intentando tramar desvios sinuosos dos caminhos incessantemente pisados, invencionando outros percursos que se distanciam de receituários e identidades fixas.
Este ensaio é fruto dos encontros do grupo de estudos “Sábados com Deleuze”, ocorridos de 2015 a 2019, na Universidade Federal de Santa Maria – RS/Brasil, com o objetivo de problematizar as conversações e os contágios que as obras estudadas dispararam no encontro com práticas artísticas e a pesquisa em educação. Algumas imagens compõem o texto, dando expressão às experimentações que ocorreram nesse sentido ao longo dos encontros de estudos. Em uma movimentação biografemática (BARTHES, 2003), este trabalho foi produzido a oito mãos, isto é, por quatro singularidades povoadas por uma polifonia de vozes que ressoam e são sinalizadas nesta escrita como: 1º, 2º, 3º e 4º par de mãos. Cada autor/a tecia sua escrita e enviava para o par subsequente, explorando regiões ainda não imaginadas. As zonas textuais resultantes desse procedimento de escrileitura (CORAZZA, 2008) intentam convidar o/a leitor/a a explorar modos de ver, ler, escrever, viver na academia em inter-relação com arte e filosofia enquanto campos de criação.
O presente artigo resulta de uma investigação a nível de Iniciação Científica (da autora deste texto e orientada pelo seu co-autor), a qual estabelece suas ações dentro de um projeto de pesquisa mais amplo que tem como desafio propor possíveis articulações entre o conceito de 'criação' (DELEUZE, 1999) e a noção de 'docência'. Assim, considerando a docência não como mera reprodutora de saberes, mas como campo de atuação que envolve, antes de tudo, criação, o texto expõe o recorte de um momento de formação em um curso de licenciatura em artes visuais. Optou-se por destacar a proposta operada na pesquisa aqui abordada, de produzir um inventário de ideias com a principal motivação de, a partir de fragmentos que convidam ao pensamento, experimentar brechas inventivas, isto é, possíveis linhas de fuga dentro do modelo formativo tradicional onde a criação possa aparecer como potência no ensaio (LARROSA, 2004; 2016) de docências singulares.
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