O sagrado e suas especificidades acompanham o homem desde tempos imemoriais. O contato com a natureza inóspita revelava um mundo animado de seres e de condições pouco favoráveis à sobrevivência do indivíduo, o qual, diante de forças descomunais, subjugava-se e se protegia a partir de rituais e de comportamentos padronizados. As civilizações antigas dedicavam grandes empreendimentos para o contato e a reverência ao seu mundo sagrado. As várias religiões que inauguraram a humanidade atravessaram séculos e continuam a determinar o modo de ver e de tratar as relações na sociedade. Houve um tempo em que se pensava que a religião e as formas do sagrado estariam em franca decadência, e que a ciência substituiria as crenças eternas. O crescente conhecimento daria lugar à racionalidade exacerbada e as crenças supersticiosas não teriam qualquer papel na sociedade. Durkheim, Weber, Freud, Berger, entre outros, dedicaram parte de seus estudos a fim de mostrar o valor da religião para o homem. Diante da importância que assume a experiência do sagrado, propomos uma discussão sobre ela e as expressões resultantes da reflexão histórica, sociológica, filosófica e científica. Essa proposta justifica-se, uma vez que a história mostra-nos que o mundo atual, desde o surgimento do pensamento científico até as altas performances tecnológicas, não serviram para livrar o homem do sagrado. Podemos notar o avanço das mais diversas formas de contato com o sagrado vivido no mundo atual a partir da liquidez das crenças no espaço urbano.
A compreensão do processo de divinização de Jesus permanece ainda um desafio, mas o início desse caminho pode estar na associação do Jesus ressuscitado em corpo espiritual ao filho do homem celestial de Dn 7, ainda no século I d.C. A partir das contribuições dos métodos histórico-críticos, complementados por análises sociológicas, literárias e culturais, esta pesquisa se volta aos evangelhos sinóticos e a textos anteriores e a eles contemporâneos, como os da apocalíptica judaica, visando encontrar indícios que já apontem para uma exaltação de Jesus a uma posição celestial. A perícope destacada, Mc 14:61-62, Mt 26:63-64 e Lc 22:67-70, reúne três dos futuros títulos cristológicos, “filho de Deus”, “Cristo”/“Messias” e “filho do homem”, que carregam as expectativas dos primeiros cristãos sobre seu mestre, já indicando sua condição diferenciada. Enquanto as duas primeiras destacam a especialidade de Jesus, a terceira, associada à figura de Daniel e 1 Enoque, chama atenção para sua condição celestial, divinizada. Jesus tem sido relacionado ao filho do homem apocalíptico apenas em seu futuro e esperado retorno à terra, contudo, é possível associá-lo já em sua condição ressuscitada, não em um corpo de carne, mas em um corpo que se assemelhe ao desse filho do homem pré-existente, em condição angelomórfica. Compreendendo a ressurreição de Jesus nesses moldes, a partir das próprias bases judaicas, sua identificação ao filho do homem celestial se torna mais coerente, o que o coloca em posição divinizada ainda antes das construções teológicas dos séculos seguintes.
A obra cuja resenha apresentamos destaca uma hipótese de compreensão das primeiras comunidades cristãs a partir de suas formas de expressão, as quais possuem fortes conexões com a cultura popular do Mediterrâneo. Paulo Nogueira exercita esse método de análise nos Atos Apócrifos, exemplos de formas de cristianismo dos séculos II e III, que descrevem as ações dos apóstolos em algumas regiões do Império Romano. O autor propõe uma abordagem que não tenha a pretensão de encontrar a realidade por trás do texto, mas de compreender o pensamento dos primeiros cristãos, o que esperavam e em que acreditavam, a partir dos discursos registrados textualmente.
A perícope destacada reúne três dos futuros títulos cristológicos, “Filho de Deus”, “Cristo”/“Messias” e “Filho do homem”. Se os dois primeiros destacam a especialidade de Jesus, o terceiro, associada à figura de Dn 7, chama atenção para sua condição celestial, divinizada. Jesus tem sido relacionado ao Filho do Homem apocalíptico apenas em seu futuro e esperado retorno à terra, contudo, é possível associá-lo já em sua condição ressuscitada, não em um corpo de carne, mas em um corpo que se assemelhe ao desse ser pré-existente. Compreendendo a ressurreição de Jesus nesses moldes, a partir das próprias bases judaicas, sua identificação ao Filho do Homem celestial se torna mais coerente, o que o coloca em posição divinizada ainda antes das construções teológicas dos séculos seguintes.
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