O artigo discute a atenção à crise em saúde mental com base em uma pesquisa-intervenção em andamento que vem cartografando os modos de acolhimento operados em três emergências de hospitais gerais de Porto Alegre. Os processos de cuidado em relação à saúde mental aparecem tão plurais e individualizados quanto as estratégias de que estes trabalhadores lançam mão para dar conta das ansiedades que tais atendimentos mobilizam. Neste percurso de pesquisa no qual a dimensão de formação e intervenção não estão separadas, a proposta é de pôr em análise o acolhimento com classificação de risco junto ao tema da crise em saúde mental, na perspectiva da Política Nacional de Humanização. O medo ao desconhecido, o estigma associado à loucura e, fundamentalmente, a sensação de despreparo dos profissionais para escutar e resolver os problemas que surgem nos atendimentos emergenciais produz efeitos de invisibilidade sobre a dimensão da saúde mental presente em muitos desses atendimentos. Uma espécie de “foco míope” no trabalho aí desenvolvido emerge como efeito deste modo de trabalhar que, sendo tomado como analisador, pode apontar caminhos de resgate ao sentido, muitas vezes perdido, do acolhimento como diretriz e dispositivo de humanização da saúde.
“Como pode a psicologia social contribuir para pensar o presente?”. Partindo dessa interrogação, este artigo objetiva questionar a obviedade por meio da qual enxergamos uma certa psicologia social, um certo tempo presente e uma certa relação entre ambos. Interessa-nos, sobretudo, problematizar a ideia de um paradigma ético-estético-político, o que realizamos em três movimentos complementares: questionamos a caracterização desse paradigma como uma evolução no campo da psicologia social, relacionamos essa caracterização a uma narrativa de progresso mais ampla sobre a política brasileira recente, e criticamos alguns dos seus pressupostos teóricos-epistemológicos a partir de um diálogo com estudos de gênero, de raça, pós-coloniais e descoloniais. Como conclusão, retornamos à pergunta inicial para sugerir que, antes de examinar o presente, a psicologia social deve se valer deste presente para radicalizar os seus pressupostos, rompendo com a ideia de um paradigma ético-estético-político em favor de um paradoxo ético-estético-político.
Este estudo discute alguns elementos para se pensar as relações entre a produção do discurso acadêmico e o lugar da Universidade, a partir da problematização da episteme moderna e da produção da noção de ciência e de conhecimento científico. Para tanto, busca principalmente no pensamento foucaultiano subsídios para construir a noção de conhecimento científico como verdade sobre o mundo e a vida, produzidos em relações de poder e de força em disputa. Desta forma, disciplina e controle transversalizam a episteme moderna e se enraízam não só em manicômios e prisões, mas também em instituições de ensino formal, produzindo diferentes tipos de clausura. Se, nas sociedades disciplinares, a clausura se dava sobre o corpo, pode-se dizer que nas sociedades de controle o controle investido nos corpos faz com que esses reproduzam as mais diversas formas de clausura. Sustentar práticas de resistência a partir de reflexões éticas que enfrentem este enclausuramento afirma-se como uma necessidade do contemporâneo.
Este artigo problematiza a relação entre produção de conhecimento, subjetividade e trabalho no contexto brasileiro. Para tal, aborda a relação entre colonialidade e descolonialidade no que tange ao campo epistemológico e suas imbricações nas relações de trabalho, tomando a subjetividade como eixo central destas análises. Do ponto de vista descolonial, evidencia os modos como se articulam os marcadores gênero e raça para mostrar os efeitos de colonização do trabalho fundamentado no modelo de homem branco ocidental. Para tanto, tomaremos estudo realizado com trabalhadoras da saúde, com a utilização de oficinas de produção de fotografia, para pensar os modos como estes marcadores aparecem nos cotidianos de trabalho.
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