O objetivo desse artigo é analisar a trajetória sócio-espacial de estudantes negras e negros nos/pelos lugares de educação formal, de fato, suas narrativas sobre esses lugares. Tendo como influência o livro A geografia do aluno trabalhador, de Resende (1986), busca-se pensar uma “geografia da/o estudante negra/o”. Para isso, a noção de trajetória sócio-espacial é importante, pois, permite dimensionar a experiência desses estudantes em sua amplitude temporal-espacial pelos lugares. Por conta do racismo existente nos lugares de educação formal, a experiência de estudantes negras/os é marcada por desapontamentos e contrariedades, o que evoca por vezes uma relação topofóbica com essas espacialidades. Isso é expresso na narrativa de uma entrevistada, que, ao falar da escola, apresenta termos como “terror”, “medo”, “sofrimento” e “desânimo” para tratar de suas vivências. Esse tipo de experiência parece se reproduzir no ensino superior, cujas/os estudantes experimentam um certo isolamento e conflitos por serem “negras/os fora do lugar”. Essas experiências confirmam a assertiva de alguns geógrafos que afirmam que a identidade racial de sujeitos e grupos define padrões diferenciados de experiência do espaço. No que se refere a população negra, reminiscências de um passado escravista e a atuação do racismo conduzem a experiências marcadas pela violência, negação e a fixação em lugares simbólicos e físicos. Estudantes negras/os nos lugares de educação formal, assim, conformam trajetórias marcadas por experiências de humilhação; desqualificação e demérito; desmotivação e desestímulo; e inculcação de um senso de deslocamento e de se estar “fora-de-lugar”. Isso demonstra os limites dos discursos universalistas difundidos nesses lugares e nos impele a enfrentar e buscar mecanismos mais efetivos para desconstruir o racismo.
Este artigo objetiva contribuir para o tema da educação escolar quilombola. Para tanto se debruça sobre a história da comunidade Campinho da Independência, Paraty, RJ ao protagonizar uma experiência de educação diferenciada calcada na pedagogia do seu território. A coleta de dados ocorreu entre os anos de 2012 e 2019 e contou com: etnografia; entrevistas com as principais lideranças políticas das comunidades pesquisadas; análise de documentos oficiais disponíveis na escola e Secretaria Municipal de Educação. A experiência aqui investigada deriva de uma demanda comunitária acionada por uma política educacional específica, diferenciada e fragilizada em tempo tão algozes. Dessa forma, diante de um cenário político marcado pelo retrocesso de algumas dessas políticas, que vinham consolidando-se em governos anteriores, compreendemos que a experiência aqui trazida reflete processos de luta contra-hegemônica e decoloniais à medida que são protagonizadas de e a partir de sujeitos “Outros”, que sofreram uma história de submissão e subalternização. Educação escolar quilombola. Território Quilombola. Educação Diferenciada. Quilombos. Quilombo Campinho De Independência, Paraty (Rj): Ethnic Territory And The Fight For A Differentiated Education ABSTRACTThis article aims to contribute to the theme of quilombola school education. In order to do so, it focuses on the history of struggle and resistance of the Campinho da Independência community in Paraty, Rio de Janeiro, Brazil, as a differentiated education experience based on the pedagogy of its territory. The data collection took place between the years of 2012 and 2019 and counted on: ethnography; interviews with the main political leaders of the communities surveyed; analysis of official documents available at the school and Municipal Department of Education. The experience investigated here derives from a community demand triggered by a specific educational policy, differentiated and weakened in times so bad. Thus, in the face of a political scenario marked by the regression of some of these policies, which were consolidating in previous governments, we understand that the experience brought here reflects processes of counter-hegemonic and decolonial struggle as they are carried out in and out of subjects "Others", who suffered a history of submission and subalternization. Quilombola school education. Quilombola Territory. Differentiated Education. Quilombos.
Atualmente, há uma dinamização das discussões referentes à questão étnico-racial no Brasil noque diz respeito à população negra. E apesar desses debates existirem há tempos, estabelecidosprincipalmente pelos movimentos sociais negros e por intelectuais, só agora o ideário que secontrapõe a uma representação de Brasil como paraíso racial consegue maior visibilidade.Várias pesquisas realizadas por órgãos institucionais demonstram a desigualdade gritante entrenegras/os e brancas/os. Na educação essas desigualdades se constituem de forma maisevidente, pois nos lugares de educação formal o racismo atua intensamente influenciando natrajetória de estudantes negras/os, sobremaneira entre estudantes negras. Assim, frente àspesquisas quantitativas, buscamos realizar uma análise qualitativa acerca da trajetóriasocioespacial de estudantes negras da Universidade Federal de Goiás (UFG). Destacamos oslugares de educação formal pelos quais estas perpassaram a fim de evidenciar, com maiorprofundidade, as relações e as vivências que as/os mesmas/as estabeleceram nesses lugares.Tendo em vista que as estatísticas muitas das vezes invizibilizam o vivido, priorizamos osrelatos e narrativas das estudantes negras. As falas das mesmas, de alguma forma, evidenciama dimensão da atuação do racismo nos locais de educação formal ao serem citados termoscomo: “terror”, “medo”, “sofrimento”, “desânimo”, “hostilidade” etc. Nessas circunstânciaspodemos entender, ao menos em partes, o que nos dizem os perversos números das estatísticas.Palavras-chave: estudantes negra/os, trajetória socioespacial, educação formal, racismo.
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