RESUMO: Tomando como referência as ideias de Antonio Gramsci sobre o que seria o senso comum, este artigo apresenta uma análise do senso comum neoliberal obscurantista e seus impactos na sociedade brasileira contemporânea e na educação. Ao contrário de algumas interpretações que separam o obscurantismo político-cultural do neoliberalismo, argumenta-se neste artigo que são duas faces da mesma moeda. A visão de mundo neoliberal, com sua vinculação da ideia de liberdade ao princípio de que a evolução social deva ser regida pela lógica do livre mercado, contém um tipo de racionalidade que conduz às mais irracionais formas de pensamento e de sociabilidade, tornando-se um terreno fértil para a difusão do obscurantismo beligerante. PALAVRAS-CHAVE:Neoliberalismo. Obscurantismo. Senso comum. RESUMEN:Tomando como referencia las ideas de Antonio Gramsci sobre lo que sería el sentido común, este artículo presenta un análisis del sentido común neoliberal oscurantista y sus impactos en la sociedad brasileña contemporánea y en la educación. Contrariamente a algunas interpretaciones que separan el oscurantismo político-cultural del neoliberalismo, se argumenta en este artículo que son las dos caras de la misma moneda. La cosmovisión neoliberal, al vincular la idea de libertad con el principio de que la evolución social debe regirse por la lógica del libre mercado, contiene un tipo de racionalidad que conduce a las formas más irracionales de pensamiento y sociabilidad, convirtiéndose en un terreno fértil para la propagación del oscurantismo beligerante.
The implications of Bolsonarism for the production and diffusion of knowledge in Brazilian public institutions of higher education are analyzed in this article through the development of three theoretical arguments. The first one is that Bolsonarism is part of a broader sociocultural phenomenon that is obscurantism, which places a demand for understanding the processes that feed obscurantism worldwide and in Brazil in particular. The second is that obscurantism is connected in a non-accidental way with neoliberalism understood here as the contemporary form of organization not only of the economy but of all social practice and consequently of the different dimensions of human life. The central political and ideological vector of neoliberalism is that the freedom of individuals can only be ensured by a society that is commanded by the spontaneity of the market. The neoliberal defense of freedom is, in reality, an imprisonment of society to a perspective that removes from human beings the possibility of making choices about the future of humanity. In this sense, the fight against Bolsonarism may not achieve significant results if it is not part of the struggle for the liberation of society from imprisonment to market logic. The third argument presented in this article is that productivism, as an academic expression of neoliberalism, configures the production and diffusion of knowledge in public institutions of higher education in a way that favors the penetration of obscurantism in academic life.ResumoAs implicações do bolsonarismo para a produção e difusão de conhecimentos nas instituições públicas de ensino superior são analisadas neste artigo por meio do desenvolvimento de três argumentos teóricos. O primeiro deles é o de que o bolsonarismo é parte de um fenômeno sociocultural mais amplo que é o obscurantismo, o que coloca a exigência de compreensão dos processos que alimentam o obscurantismo no mundo todo e no Brasil em particular. O segundo é o de que o obscurantismo, por sua vez, mantém relações não acidentais com o neoliberalismo, entendido este como a forma contemporânea de organização não só da economia, mas de toda a prática social e, por consequência, das diversas dimensões da vida humana. O vetor político e ideológico central do neoliberalismo é o de que a liberdade dos indivíduos só pode ser assegurada por uma sociedade que seja comandada pela espontaneidade do mercado. A defesa neoliberal da liberdade é, na realidade, um aprisionamento da sociedade a uma perspectiva que retira dos seres humanos a possibilidade de fazerem escolhas sobre o futuro da humanidade. Nesse sentido, a luta contra o bolsonarismo pode não alcançar resultados significativos se não for parte da luta pela libertação da sociedade do aprisionamento à lógica de mercado. O terceiro argumento apresentado neste artigo é o de que o produtivismo, como expressão acadêmica do neoliberalismo, configura a produção e difusão do conhecimento nas instituições públicas de ensino superior de maneira favorecedora da penetração do obscurantismo na vida acadêmica.Palavras-chave: Bolsonarismo, Obscurantismo, Neoliberalismo, Produtivismo acadêmico.Keywords: Bolsonarism, Obscurantism, Neoliberalism, Academic productivism.ReferencesANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo, SP: Boitempo, 2009.GARRISON, Roger W. Hayek and Friedman: Head to Head In: SEA (Southern Economic Association) Meeting, New Orleans, EUA, 2007, p. 1-21. Disponível em: <http://webhome.auburn.edu/~garriro/hayek%20and%20friedman.pdf> Acesso: 08/07/2020.HAYEK, Friedrich A. Law, Legislation and Liberty. Londres, Inglaterra: Routledge, 2013.MADRA, Yahya M.; ADAMAN, Fikret. Neoliberal reason and its forms: de-politicisation through economisation. Antipode: a radical journal of Geography. England and Wales, vol. 46, n. 3, pp. 691-716, 2014.MARCOS, Fabrício L. F. Mecanismos de despolitização da esfera pública no Brasil atual. Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2018.McLUHAN, Marshall. Understanding Media: the extensions of man. Berkeley, California, EUA: Gingko Press, 2013.RAMOS, Marise N. Pedagogia das Competências: autonomia ou adaptação? São Paulo: Cortez, 2001.ROCHA, Igor Tadeu Camilo. Governo Bolsonaro: ala “técnica” é também ideológica. Blog Entendendo Bolsonaro. Artigo publicado em 03/09/2019. Disponível em: <https://entendendobolsonaro.blogosfera.uol.com.br/2019/09/03/ala-tecnica-do-governo-bolsonaro-e-tambem-ideologica/> Acesso: 21/06/2020.SGUISSARDI, Valdemar; SILVA JR., João. R. O trabalho intensificado nas federais: pós-graduação e produtivismo acadêmico. São Paulo: Xamã, 2009.e4542134
As atuais políticas públicas de educação integral no Brasil partem da constatação de que os resultados escolares deixam a desejar, sendo necessário mais tempo para a realização de ações que revertam tal quadro. Mas as causas dessa situação são identificadas como externas ao âmbito propriamente pedagógico. O aumento do tempo escolar, ao invés de ser empregado em atividades que melhorem a aprendizagem dos conteúdos escolares, acaba sendo destinado a atividades que supostamente atacariam os problemas que impediriam o sucesso escolar, quais sejam: violência, “família desestruturada”, falta de interesse, ausência de perspectiva de vida etc. As escolas de tempo integral comumente realizam, no chamado contraturno, atividades desconectadas do ensino dos conteúdos escolares, com um caráter predominantemente recreativo e que, de certo modo, acabam prejudicando o estudo da criança, pois ela chega em casa cansada e não faz as tarefas escolares. Na perspectiva marxista da pedagogia histórico-crítica, esse tipo de educação em tempo integral não faz sentido, pois amplia o tempo de permanência da criança na escola, mas não garante o que proclama o discurso das políticas públicas, isto é, uma formação mais ampla e consequente melhoria da educação. Palavras-chave: Educação Integral. Políticas públicas em educação. Pedagogia histórico-crítica. Marxismo.
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