No presente artigo analisamos como o estigma se transformou em elemento constituidor da representação público-midiática no processo histórico de construção do sujeito travesti no Brasil. Para realizar a arqueologia dessa invenção histórica, escavamos os discursos da imprensa, entendendo esta como dispositivo de produção de subjetividades que constitui parte da matriz heteronormativa. Relacionamos as peculiaridades dos enunciados produzidos em Fortaleza (CE), na década de 1980, com a produção discursiva sobre o universo trans que circulava nacionalmente no mesmo período. Tal gesto teórico-metodológico nos aproxima do olhar genealógico foucaultiano que persegue as normas discursivas escondidas sob a poeira do tempo-templo que sustentam as invenções históricas.
Resumo: Em maio de 1984 Roberta Close foi fotografada para a revista Playboy. As fotos de uma transexual nua, em uma revista masculina de circulação nacional, causaram uma comoção erótica no Brasil. Neste artigo, parto do "fenômeno Roberta Close", como ficou conhecida a repercussão em torno da aparição da modelo na revista, para problematizar as "sexualidades periféricas" no centro da cena público-midiática em Fortaleza (CE), na década de 1980. Por meio da análise da Playboy e dos jornais O Povo e Diário do Nordeste, estes últimos produzidos na capital cearense, aponto que, o "fenômeno Roberta Close" contribuiu para reorganizar antigas noções acerca das experiências trans (travesti e transexual) na medida em que, através das controvérsias em torno de Roberta Close, a questão trans, e de modo geral, a homossexual, ultrapassou os espaços privados, temporários e periféricos do carnaval, teatro e boate, invadindo o centro da cena público-midiática.Palavras-chave: experiências trans.; sexualidade; mídia * As discussões presentes nesse texto compõem parte das reflexões realizadas no segundo
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